sábado, 7 de setembro de 2013

E a Câmara de Moreno virou Igreja. Aleluia!





Sábado, 7 de setembro. Feriado nacional. Apesar do slogan “o gigante acordou”, muita gente hoje se esqueceu das lutas populares travadas em junho e preferiu ficar deitada em berço esplêndido. Acordei-me cedo, ainda animado pela exibição na noite anterior do filme "Faço de Mim o que Quero", na praça principal do centro de Jaboatão. Atualizei a fan page do Cineclube Moscouzinho e em seguida preparei-me para participar do Grito dos Excluídos, em Recife. 

Essa história de desfile cívico não me cativa mais. Na maioria das vezes as manifestações, inclusive as escolares, soam como resquícios ideológicos da última ditadura civil-militar. No caminho até a parada de ônibus, a surpresa do dia: na Câmara de Vereadores do Moreno, um “Culto Cívico” promovido pelas igrejas evangélicas locais. Motivado por essa surpresa e por valorizar a democracia e a diversidade religiosa é que, infelizmente, perderei precioso tempo deste feriado escrevendo obviedades. 

Antes de tecer minhas críticas, adianto para as pessoas fundamentalistas que as lerão, que, não sou contrário às religiões nem às suas manifestações. Apesar de não mais me considerar uma pessoa religiosa, atualmente integro uma comunidade religiosa ligada à Igreja Episcopal Anglicana, Diocese Anglicana do Recife situada no bairro de Santo Aleixo, Jaboatão. No Ponto Missionário da Liberdade há isso: Liberdade. Lá,  prioriza-se as pessoas reais e se faz a opção cristã por quem está à margem, nesse caso, gays, lésbicas, pessoas sem-teto e sem-terra, o resgate e valorização das comunidades nativas quilombolas e indígenas e se dá uma atenção especial ao serviço diaconal e social da Igreja. E preza-se por manter relações humanas amorosas, atendendo aos conselhos das melhores tradições espirituais – que podemos resumir em uma palavra ambígua, polissêmica, mas universal: o amor. Lá, seu rótulo religioso, ou não, sequer interessa ao bispo. Diga-se de passagem, um homem que conviveu e se inspira nas palavras e gestos do saudoso Dom Hélder Câmara. Foi lá que na semana passada iniciamos, pessoas ateias, espiritualistas e religiosas, um grupo de estudos sobre "Fé e Política" com foco na leitura hermenêutica e crítica da Bíblia. 

Pois bem, partindo do pressuposto que não sou um “comunista ateu comedor de criancinhas”, volto à imagem do Culto Cívico realizado hoje pela manhã na sede do Poder Legislativo morenense e à minha crítica, perguntando: 1) acaso o parlamento desta cidade se esquecem que há mais de um século o Estado brasileiro desvinculou-se oficialmente da Igreja Católica Apostólica Romana - sua mentora colonial tão criticada hoje pela ala reformista protestante - e que a Constituição Federal de 1988 ratificou o laicismo do mesmo? Parece-me que há aí um caso de amnésia política coletiva. 

As pessoas lúcidas e independentes em Moreno sabem que o nível político e técnico da atual legislatura local é lastimável, haja vista, entre outros, o tragicômico e já folclórico episódio do Projeto remetido pelo Poder Executivo e aprovado pelo Poder Legislativo em que o município virtualmente “ganhou” um trecho de orla marítima. 

No folder distribuído por quem organizou o evento há um texto de autoria do Revdo. Roberval Góis que sutilmente desconsidera nossa Carta Magna a ponto de só faltar propor a convocação de uma nova constituinte não para a esperada reforma política, mas para reinstalar o regime teocrático entre nós, portanto, o Estado Totalitário de face religiosa. Reproduzo esse texto aqui na íntegra: “A concepção evangélica acerca do Estado e da sociedade tem como ponto de partida o pensamento dos reformadores do século XVI, com especial destaque para os ensinamentos de João Calvino, mas também articulada por outros líderes e teólogos reformados, como Ulrico Zuínglio, Henrique Bullinger, Jonh Knox, Abraham Kuyper e Karl Barth, entre outros, bem como pelos documentos confessionais da fé reformada (confissões de fé e catecismos). Em seus escritos, Calvino disse muitas coisas importantes a respeito do Estado, da sociedade e dos problemas sociais, sempre sobre a ótica do pastor e do teólogo estudioso das Escrituras. Por isso, não se deve dissociar o seu pensamento social e econômico de sua reflexão teológica. Esse pensamento resultou e seus pressupostos teológicos e bíblicos, dentre os quais as convicções de que Cristo é Senhor de todos os aspectos da existência humana e de que a Palavra de Deus contém princípios que devem reger todas as áreas da vida. Dessas duas premissas fundamentais – a soberania de Deus sobre toda a vida e a centralidade das Escrituras como revelação de Deus – decorre todo o pensamento teológico de Calvino, inclusive as suas concepções sobre a ordem política e a ordem social. Por outro lado, não se deve esquecer que Calvino era um homem do seu tempo e que vários aspectos da sua reflexão foram condicionados pelas realidades políticas e sociais de sua época. O mais importante é o fato de que, desde os seus primórdios, a tradição reformada entendeu que a fé bíblica tem importantes implicações não só para o indivíduo, mas para a coletividade, a começar da vida política e da relação entre a Igreja e o Estado. A grande pergunta é a seguinte: Qual a nossa postura? Qual a nossa atitude? O que temos feito para resgatar [leia-se IMPOR] a visão cristã da responsabilidade da Igreja com o Estado? Um forte abraço e fica com Deus. Saia da lama do lamento, vá para o céu, aprenda a voar.” Preocupante... 

Não bastasse a proposital confusão entre público e privado manifesta num culto realizado na Câmara de Vereadores, inclusive com a presença do prefeito do município, Adilson Gomes Filho; não bastasse a fixação de um crucifixo em espaço destacado no prédio; não bastassem as regimentais orações cristãs realizadas no início e no término das sessões legislativas, travestido de civismo e patriotismo, o saudosismo/anseio por um Estado Teocrático; 2) pergunto-me se haveria a mesma disposição do presidente-pastor da Casa, o vereador cristão Adimilson Barbosa, em promover democraticamente todas as cerca de 10.000 religiões catalogadas por pesquisadores da área até 2012. Aliás, pergunto-me – se a resposta fosse afirmativa – se isso seria possível, desejável e regimental e constitucionalmente legal, visto que a prerrogativa do Poder Legislativo é, justamente, criar leis e fiscalizar sua execução, dentro, repito, dos limites da democracia que é, de longe, o regime político menos injusto e excludente que as sociedades inventaram e tentam implementar, à despeito da falácia estadunidense, por exemplo; 3) pergunto-me ainda a quem recorrer no município para cobrar o cumprimento da Constituição Federal num município em que prefeito, vereadoras e vereadores fazem do público privado, amparados pela hegemonia de tendências cristãs que se arrogam representar a Vontade Absoluta, à revelia de importantes avanços nas pesquisas antropológicas, sociológicas, filosóficas e até mesmo as teológicas honestas que constatam a pluralidade e a diversidade como condições humanas universais, portanto, fartamente repetidas no tempo e no espaço da humanidade. 

Novamente: não tenho nada contra as religiões, mas tenho contra a escalada de tendências autoritárias e totalitárias conservadoras camufladas de religião e lideradas por assanhados e desequilibrados mas astutos pastores falaciosos e equivocados que estão distorcendo os espaços públicos, seja parlamentos, praças, escolas ou meios de comunicação. A composição atual da Câmara de Vereadores do Moreno, repito, é politicamente pobre, conivente e subserviente ao apadrinhado do governador-ditador pernambucano, Eduardo Campos. 

Não espero que essas pessoas que exercem o mandato parlamentar como um direito pessoal adquirido se sensibilizem nem se constranjam com estas críticas. Ao contrário, espero uma enxurrada de defesas proselitistas. Mas apelo à(o) bom senso de quem me lê: haverá um retrocesso maior se a parcela esclarecida da população morenense não se der conta a tempo do valor de um Estado democrático, republicano e laico que temos pelo menos no papel. 

Todo o direito à livre manifestação religiosa, desde que se garanta o mesmo direito às outras religiões, não se confunda o público com o privado e se observe a Constituição Federal vigente.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Comunidades de Fé nas Nações Unidas: ativismo contra a violência de gênero?

Ilcélia Soares e Mary Caulfield


Ilcélia Alves Soares
A violência contra as mulheres e as meninas sempre esteve presente na sociedade brasileira. Contudo a discussão sobre a temática ganha sentido nos anos 80, com atuação das Organizações Não Governamentais - ONGs, dos Movimentos Sociais de direitos humanos e Feministas, que contribuíram para tirar da invisibilidade as mulheres e meninas que viviam em situação de violência, trazendo para as rodas de diálogo toda forma de violência de gênero vivida por elas: seja a violência física, psicológica, sexual, religiosa, patrimonial, moral, econômica e/ou cultural.
No Brasil esses movimentos foram de fundamental importância como ferramenta de pressão, de controle social e fomento de políticas públicas, bem como, para o resgate dos direitos e da dignidade dessas mulheres e meninas. A prevenção, o enfrentamento e a erradicação da violência de gênero são lutas constantes também para as ONGs e representantes de diversos Movimentos Sociais que estiveram presentes na quinquagésima sétima Comissão das Nações Unidas sobre o Status da Mulher (CSW 57), realizada em Nova Iorque, durante o período oficial de 04 a 15 de março de 2013.
A Comissão das Nações Unidas sobre o Status da Mulher (CSW ONU) é uma organização independente que estabelece ligação com a ONU, em nome de ONGs, durante a preparação e operação da reunião anual. As Organizações Não Governamentais da CSW operam paralelamente e em parceria com o programa oficial da ONU.
No dia 03 de março, o Armenian Convention Center sediou o Fórum de Organizações Não Governamentais (ONGs) da Comissão sobre o Status da Mulher (CSW) de 2013, evento que contou com a participação de representantes de diversos países, entre esses, mulheres e meninas de todas as idades. O protagonismo das meninas durante suas falas, performance teatral e as experiências partilhadas sobre o ativismo, demarcou a relevância da prevenção e criou esperança para que novas gerações possam viver em uma cultura de não violência.
A primeira mensagem do dia foi proferida pela, na época, Diretora Executiva da ONU Mulheres, senhora Michelle Bachelet. Em seguida vários painéis foram apresentados por ativistas, acadêmicos, religiosos, embaixadores e representantes não governamentais. Tod@s expuseram seus trabalhos, questionaram e discutiram a temática, afirmando que a responsabilidade é de todos/as, e criticaram a falta de vontade política dos/as governantes no combate ao tráfico humano e à violência doméstica.
O painel sobre o papel dos homens diante das violências contra as mulheres e meninas assinalou o quanto é imprescindível punir os autores de violência e a necessidade de se preocupar também com eles. Essa violência é “contra toda a sociedade [...] e atinge a todas e todos”. E mais uma vez as vozes ecoaram afirmando que a “violência é responsabilidade de todos”.
Diante dessa compreensão, as Comunidades de Fé afirmaram, durante o encontro, que não podem mais compactuar com o silêncio, reconheceram que em todos os lugares ocorrem manifestações de violências em suas múltiplas formas contra as mulheres e as meninas no espaço público e no privado: nas casas, nas escolas, nas igrejas e nas ruas, e se comprometeram com a prevenção e com o enfretamento da violência de gênero.
Durante a quinquagésima sétima Comissão das Nações Unidas sobre o Status da Mulher (CSW 57), as Comunidades de Fé, representadas por suas respectivas Organizações Não Governamentais, apresentaram ideias, interesses e propósitos diversos. Ressaltamos aquelas que reconhecem o Estado Laico, são ecumênicas, inclusivas, e respeitam as diversidades; como exemplo, destacamos a International Anglican Women’s Network (IAWN) e a Restored – Ending Violence Against Women.
International Anglican Women’s Network (IAWN)1
A primeira a ser destacada é a Rede Internacional de Mulheres Anglicanas – International Anglican Women’s Network (IAWN), formada, em novembro de 1996, para garantir que as mulheres sejam ouvidas nos conselhos da Igreja, em particular no Conselho Consultivo Anglicano (ACC) e na Comissão Conjunta Permanente dos Primazes (CCP).
A IAWN tem como Missão habilitar e capacitar todas as mulheres da Comunhão Anglicana para trabalhar cooperativamente em nível nacional, provincial/internacional, a fim de fortalecer os ministérios de mulheres no mundo de Deus e para garantir a equidade de gênero: que as mulheres sejam participantes e influentes em toda a Comunhão Anglicana.
Em 2005, foi aprovada a Resolução 13-31 do Conselho Consultivo Anglicano (ACC), que incluiu o reconhecimento à igualdade de representação das mulheres na tomada de decisões em todos os níveis. A partir de então, foi reivindicado às Províncias que, em todas as reuniões e decisões, as mulheres estivessem presentes com voz e voto. Foi proposta, ainda, a recomendação de uma Comissão Permanente para realizar um estudo sobre o lugar e o papel das mulheres nas estruturas da Comunhão Anglicana.
Em 2006, a rede foi reestruturada para elevar uma voz profética em toda a Comunhão Anglicana e por todas as comunidades em que vivemos, com o propósito de aumentar e viabilizar a comunicação: todas as mulheres da Comunhão Anglicana são convidadas a ter voz, expressar e compartilhar suas preocupações e conquistas.
Em 2009, o Conselho Consultivo Anglicano (ACC) endossou os elementos da resolução 13-31 e, também, acenou com o seu apoio para a eliminação de todas as formas de violência contra as mulheres e meninas, a promoção dos direitos e do bem-estar das mulheres, e recomendou a implementação dos princípios sobre orientação de gênero (Resolução 14-33).
A Rede Internacional de Mulheres Anglicanas (IAWN) continua a trabalhar para a participação plena e igualitária das mulheres em todas as comunidades da Comunhão Anglicana e, também, para apoiar a Plataforma de Ação das Nações Unidas, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – Metas do Milênio, e outras iniciativas das Nações Unidas e suas agências especializadas para a equidade de gênero.

Restored – Ending Violence Against Women.2
É uma aliança internacional cristã que trabalha com a temática da violência contra as mulheres e do HIV/AIDS. O foco específico da Our specific focus is on the prevention of domestic violence and sexual violence against women and girls.Restored, enquanto Organização Não Governamental – ONG, é a prevenção da violência doméstica e da violência sexual contra as mulheres e as meninas. Ela tem desenvolvido trabalhos na África, incluindo a Libéria, República Democrática do Congo e Etiópia, assim como na Ásia Central, Rússia e Reino Unido. A Restored acredita que We believe that Christian churches have huge potential to help prevent violence, but also need to change their own attitudes and practice.as igrejas cristãs têm potencial para prevenir e combater a violência de gênero, mas também, elas precisam mudar suas atitudes e práticas.
A Restored – Ending Violence Against Women acredita e anuncia que:
  • In 2011 Mandy won the Deloitte 'Women Who Rock' award for her work on gender equality and ending gender based violence.Mandy is passionate about seeing the church rise up to take action on ending violence against women and being a positive example to the world on healthy relationships.We believe that men and women are equal in the sight of God. Homens e Mulheres são iguais aos olhos de Deus. We believe that Violence Against Women (VAW) in all its forms is unacceptable, inexcusable and intolerable.
  • A Violência Contra a Mulher (VCM), em todas as suas formas, é inaceitável, indesculpável e intolerável. We believe that the safety of women and children is paramount and that any interventions to address VAW must reflect this.
  • We believe that relationships can be restored and that people can be transformed through the powe We believe that men and women should work together to transform relationships and end VAW. Homens e mulheres devem trabalhar juntos para transformar as relações e romper com as violências contra as mulheres e as meninas. We believe that the church has a vital role in transforming relationships and ending VAW both amongst Christians and in the community.
  • As relações podem ser restauradas; a verdadeira transformação das pessoas deve preceder a possível restauração das relações.
  • A igreja tem um papel vital na transformação das relações e na erradicação das violências contra as mulheres e meninas, tanto entre cristãos quanto na sociedade. As members of Restored, we commit ourselves to prayer and action to transform relationships and to prevent and end VAW.
Ao término da quinquagésima sétima Comissão das Nações Unidas sobre o Status da Mulher (CSW 57), as ONGs e Comunidades de Fé retornaram aos seus respectivos países, assumindo o compromisso de dar continuidade ao diálogo, compartilhar o que foi discutido nas Nações Unidas, e construir ações de prevenção e enfrentamento da violência contra as mulheres e as meninas.
Nosso compromisso, enquanto brasileiras e representantes anglicanas, pretende estar em consonância com o pensamento de Paulo Freire, quando afirma: "Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. Percebo, assim, que o Serviço Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento – SADD, através das suas ações, projetos, investimento nos Contatos Diocesanos, diálogos com temas como HIV/AIDS, Violência Doméstica e Direitos Humanos, tem convidado todas as pessoas da IEAB a romper com o silêncio e se engajar ao serviço de diaconia social e política nas comunidades de fé.

A psicóloga Ilcélia Soares participar de Encontro da Comissão das Nações Unidas

Mulheres Ecumênicas na Comissão sobre o Status das Mulheres: desafios de viver no mundo de Deus Pai/Deus Mãe sem violência de gênero.1

Mandala pela PAZ


As Mulheres Ecumênicas estão presentes na Comissão das Nações Unidas sobre o Status da Mulher (CSW UN) desde 2000. É uma coalizão internacional de igrejas e organizações ecumênicas junto ao Conselho Econômico e Social da Nações Unidas (ECOSOC).

Como organizações baseadas na fé, elas admitem que, historicamente, algumas instituições e comunidades de fé criaram e perpetraram uma narrativa de subserviência das mulheres e meninas, através de seus ensinos e práticas em relação as estruturas patriarcais. Além disso, elas reconhecem a sua responsabilidade e, também hoje, a capacidade de prevenir a violência e defender as mulheres e meninas como criadas à imagem de Deus e igual a dos homens e meninos.

As Mulheres Ecumênicas, representando 29 países, sendo o Brasil um deles, e 18 Comunidades de Fé, entre elas a Comunhão Anglicana, estavam presentes na quiquagésima sétima reunião sobre o Status da Mulher (CSW57), nas Nações Unidas, durante o periodo de 04 a 15 de março de 2013. Antes desse evento, no dia 02 de março, realizou-se o primeiro encontro em Nova Iorque com o propósito de reunir essas representações para celebração e diálogo em defesa dos direitos das mulheres nos campos político, econômico, civil, social e educacional.

A participação das Mulheres Ecumênicas na Comissão sobre o Status da Mulher é para chamar à atenção sobre as questões vinculadas ao tema da eliminação e prevenção da violência contra mulheres e meninas e sugerir recomendações possíveis a ação, as quais seguem abaixo:
  • Reconhecem que, subjacente a todas as formas de violência, existem fatores culturais, estruturais e econômicos que criam desequilíbrio, que humilha e diminui a dignidade de meninas e mulheres. A discriminação de gênero aumenta o risco de violência contra elas que, desde a infância, são ensinadas a normalizar, aceitar e suportar as violências como prática cultural. Aceitar essa discriminação de gênero é ser conivente com a violação de seus direitos humanos.
  • A aceitação cultural da discriminação leva à discriminação estrutural. Muitos governos adotam uma legislação nacional pelo fim da violência contra as mulheres, mas não conseguem implementá-la. Mais mulheres devem ser envolvidas nos processos de decisão e os estados devem trabalhar ativamente para prevenir e punir a violência contra as mulheres nos lugares de esfera pública ou privada.
  • A discriminação econômica impede as mulheres de contribuir integralmente como agentes econômicos e, muitas vezes, não são reconhecidas por suas contribuições e são impedidas de participar nas economias locais, regionais e internacionais.
  • Nós reconhecemos que a violência contra mulheres e meninas é de fato um problema social. A fim de combater as raízes da violência baseada no gênero, todos os setores da sociedade devem trabalhar juntos.
  • Devemos prestar atenção especial tambem às necessidades das populações minoritárias: rural, indígena e imigrantes dentro dos Estados que frequentemente enfrentam dificuldades particulares para o combate à violência, devido ao seu isolamento geográfico e relacional de posições e centros de poder. Isso afeta a sua capacidade de acessar os recursos, tais como serviços, educação e informação.
As Mulheres Ecumênicas apelam a ONU e a suas agências especializadas para:
  • Promover uma plataforma para o diálogo aberto, especialmente para aquelas sociedades onde o silêncio, vergonha e negação impedem que as mulheres e meninas deêm um passo à frente e recebam os subsídios de que necessitam.
  • Desenvolver planos de ação nacionais para erradicar o tráfico humano e fazer cumprir os esforços internacionais para com os compromissos estabelecidos no Protocolo da ONU para Prevenir, Suprimir e Punir o Tráfico de pessoas.
  • Desenvolver campanhas de sensibilização e mecanismos de informação para a igualdade de gênero.
  • Educar homens e meninos sobre as relações respeitosas com as mulheres e meninas.
  • Criar e apoiar programas que suportem os direitos, especialmente, das mulheres, da minoria (rural, indígena, imigrantes), fortalecendo as comunidades e promovendo o bem-estar de todas as pessoas.
  • Trabalhar para educação e acesso a dispositivos de saúde reprodutiva, incluindo a contracepção e prevenção de DSTs/HIV/AIDS.

Durante os 14 dias de trabalho, estavam todas confiantes de
que compartilhar a voz é um espaço para o ativismo: “eliminação e prevenção da violência contra mulheres e meninas”, e de que, quando voltassem a suas casas, continuariam com este trabalho para partilhar o que aprenderam umas com as outras e viver os desafios no mundo de Deus Pai/Deus Mãe.

1 Ilcélia Soares

domingo, 1 de setembro de 2013

O SADD e a Visão Mundial apoiam o MJPOP Liberdade




Ontem, 31/08, o Mjpop Liberdade participou de mais uma reunião da União de Moradores de Santo Aleixo - UMSA. Foi a estreia do vídeo produzido por jovens que participam do Monitoramento Jovem de Políticas Públicas, um projeto da Visão Mundial apoiado pelo Serviço Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento - SADD. Dessa vez foi produzido mais um vídeo  Voz da Juventude com o tema Direitos da criança. 


Além da apresentação do vídeo, levamos as informações coletadas no DRP sobre saúde, realizado com jovens do bairro e servidores da Unidade Básica de Saúde. Após as apresentações foi iniciado um debate sobre os temas. 
Como encaminhamentos, a UMSA (União de Moradoras(res) de Santo Aleixo), listará locais que possam ser transformados em praças e/ou parques e enviar um ofício à prefeitura; quanto à saúde, o MJPoP Liberdade participará de uma Audiência Pública sobre saúde no município (no dia 11/09) e também irá junto com representantes da UMSA entregar um 'dossiê' com os problemas apresentados no nosso DRP, a data ainda será definida.
Estaremos sempre compartilhando as novidades. Beijos.


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Serviço Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento apoia a Liberdade

O SADD - Serviço Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento -, tem acompanhado de perto toda nossa Caminhada. E tem nos oferecido ajuda - com assessorias e encontros de formação - para melhor desenvolver a ação diaconal da Igreja com nossa gente da Liberdade





MJPOP Liberdade aprendendo a usar o som




Equipe do SADD reunida em Brasília - DF
O Ponto Missionário da Liberdade está em festa. Estamos vivendo um momento muito especial em nossa Caminhada de fé. Nos últimos meses o diálogo com a comunidade de Santo Aleixo, bairro de periferia da cidade de Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife, só tem aumentado. E estamos percebendo o direcionamento de Deus para nossa Missão: ouvir as pessoas e Caminhar com elas orando, Celebrando e agindo. Somos uma pequena comunidade cheia de alegria, fé e esperança. E sonhamos com a Liberdade para todas as pessoas sem distinção de raça, credo e orientação. Sendo assim, afirmamos a inclusividade, o respeito a diversidade e a aceitação das diferenças como princípio cristão a ser vivido como testemunho diário.  

Aos poucos vamos percebendo o desejo de viver numa comunidade de fé simples e acolhedora por parte de quem chega para Celebrar com a gente. Mas, não é uma Missão fácil. Vivemos em estado de alerta constante, crescente e contínuo. Possibilidade de furtos, risco de inundação a cada inverno, precariedade nas instalações, pobreza no contexto do bairro, miséria estampada nas ruas, crianças, adolescentes e jovens vivendo em constante situação de risco e vulnerabilidade, contexto de violência doméstica, mulheres vítimas de violência de gênero, a juventude sendo dizimada violentamente, esses são, basicamente, os desafios de nossa Missão. Mas, Deus tem derramado bençãos sobre nossas vidas. 

Encontro REJU casa do CEBI, em Abreu e Lima - PE

Já há algum tempo temos a experiência de vivenciar uma fé ecumênica a partir da presença da REJU - Rede Ecumênica de Juventude - desde os seus primeiros passos por Pernambuco, em 2008, quando participamos da 2ª Jornada Ecumênica do Nordeste. Também por essa época começamos a nos relacionar com a Visão Mundial buscando descobrir uma maneira de firmar parceria com nossas ações no bairro. Então, nos apresentaram o MJPOP - Monitoramento Jovem de Políticas Públicas que, em nosso caso, passou a se chamar de MJPOP Liberdade. Nessa ação se envolveram pessoas, moças e rapazes, do bairro. E depois de encontros de formação a juventude local passou a monitora as políticas públicas municipais ligadas a saúde. Mais especificamente a Unidade de Saúde da Família. O MJPOP Liberdade existe desde 2010 marcando presença nas Conferências de Juventudes do Município, nas reuniões da União de Moradores do Bairro, promovendo fóruns e debates locais. E em união com vários jovens de outros movimentos sociais dos bairro circunvizinhos produziram o documentário "Águas de Jaboatão". Tudo isso foi sendo construído em rede com jovens de outras Igrejas, de movimentos e organizações sociais. Também muito importante para nossa Caminhada é a presença do CEBI-PE (Centro de Estudos Bíblicos), nos assessorando na formação bíblica, no jeito comunitário de viver a Bíblia no dia a dia. 


Encontro MJPOP
Há um ano se aproximaram de nós mais pessoas jovens que, discernindo a nossa forma de ser, passaram a Caminhar e a sonhar conosco. Jovens do Núcleo Educacionista de Jaboatão. Moças e rapazes de nível universitário provenientes de escolas públicas do bairro que lutam por melhorias no sistema de educação do município. E nós nos integramos a mais essa ação porque entendemos que o serviço da Igreja tem a ver com a Diaconia proposta por Jesus. A ação sócio política é a Missão da Igreja para transformação das estruturas dominantes e opressoras da sociedade. E nossa mais nova descoberta foi o Cine clube Moscouzinho, um movimento popular que se dispõe a refletir sobre educação e política a partir do cinema popular. 
Pastoral Infantil


Desde janeiro deste ano começamos a Pastoral Infantil com o apoio da UMEAB, a partir do movimento de Oferta Unida de Gratidão, e estamos acompanhando cerca de 12 crianças, todos os sábados, com momentos de devocional, oração bíblica e brincadeiras, além de um delicioso lanche. Nosso objetivo é alcançar as famílias dessas crianças, criar vínculos de confiança e trabalhar preventivamente com cada qual delas. Esse projeto foi articulado pela presidente da UMEAB da Diocese, irmã Madalena Soares. 

O SADD - Serviço Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento -, tem acompanhado de perto toda essa Caminhada. Por isso com a articulação da representante diocesana, Ilcélia Soares, que sempre nos apoiou e acreditou em nossas ações missionárias, após abrir edital para projetos, aprovou um projeto específico para o fortalecimento das nossas atividades locais ligadas ao Monitoramento de Políticas Públicas. Vínhamos sonhando, em nossas reuniões de oração, com um instrumento que nos levasse para às ruas, que nos apoiasse na comunicação do Evangelho para todas as pessoas do bairro, vínhamos orando para que Deus nos desse a possibilidade financeira de confeccionar para nós uma Bicicleta de Som e Propaganda. E assim aconteceu. Graças a Deus, agora estamos com nossa Bicicleta da Liberdade, uma rádio sob três rodas.  




Ocupação Educacionista da Liberdade
Com ela todas essas atividades serão multiplicadas. Nossos cines populares serão realizados nas ruas. Nossos cultos evangelísticos serão realizados em praça pública, no meio do povo e com o povo. Apoiaremos as ações de cada movimento desses de nossa comunidade como nossa visão e missão evangelizadora.  

O MJPOP Liberdade já decidiu que vai discutir com a sociedade local a questão da Redução da Maioridade Penal propondo momentos de debates e reflexão para adolescentes das escolas públicas. E a Bicicleta Liberdade será um grande meio de provocar reflexão nas pessoas. 


Já decidimos que anunciaremos todas as reuniões da União de Moradores do bairro. Buscando contribuir para a maior participação das pessoas nas reuniões para refletir sobre as questões urgentes do bairro de Santo Aleixo. O Núcleo Educacionista já tem carteira liberada para refletir as questões ligadas a melhoria do ensino público. Teremos muitos momentos de cultura e diversão a partir de filmes e pequenas apresentações de artistas que receberão o convite para se apresentar em nossas ruas. 


Com a Bicicleta Liberdade iremos fazer programas de rádio e de vídeos para promover os Direitos Humanos e Cidadania. E claro, dessa forma, proclamaremos o Evangelho de Jesus para toda gente oprimida de nossa Região. Por isso, agradecemos, primeiramente, à Deus por sua bondade e misericórdia, agradecemos a todas as pessoas do SADD, especialmente a Revda. Magda Guedes, a 
Sandra Andrade e a Ilcélia Soares, ao nosso Bispo Dom Sebastião Armando que tanto nos ajuda de maneira amorosa, como um verdadeiro Pai em Deus, agradecemos o apoio de Reinaldo Almeida e Welinton Pereira (Visão Mundial), e ao Daniel Souza (REJU Nacional), agradecemos a parceria com a Catedral Anglicana da Santíssima Trindade, na pessoa do Revdo. Sérgio Andrade e de membros da comunidade, que nos apoia em oração e com ofertas generosas. Muita gente boa faz parte de nossa história e ajudou na nossa Caminhada de fé e ação missionária, por isso queremos também agradecer ao Revdo. João Peixoto, pela escolha de nossa casa e por ter nos pastoreado, ao Revdo. Gustavo Gilson que sempre caminha junto conosco, ao Revdo. Félix Filho por todo seu empenho, apoio e companheirismo no período da nossa reforma. Finalmente, queremos agradecer a todas as pessoas da comunidade de fé, Ponto Missionário da Liberdade, a cada criança, adolescente, jovem e pessoa adulta, a cada família envolvida nesse projeto missionário cheio de sonhos, mas que anda com os pés no chão das ruas e morros de Santo Aleixo. E rogar a Deus todas as bençãos merecidas a essa gente trabalhadeira e guerreira da Liberdade. Que Deus continue nos abençoando sempre. 

As ruas nos esperam, vidas esperam por nossa ação missionária transformadora. Vamos às ruas na paz de Cristo. Tenhamos coragem e sejamos fortes na proclamação do Evangelho a todas as pessoas, sirvamos ao Senhor com alegria, no Poder do Espírito Santo, ALELUIA! 


  




terça-feira, 23 de julho de 2013

Zé Vicente - Cordel a JMJ





Compartilho com você, na linguagem nossa do Cordel a Mensagem pra JMJ!

MENSAGEM PRA JMJ
Zé Vicente

Divino Espírito Santo
Me conceda inspiração
Pra escrever esses versos
Com verdade e emoção
Tu que és pra todo artista
A luz na mente e na vista
O tom pra toda canção!

Em nome de quem não pode
Participar da Jornada
Mundial da Juventude
Que está tão badalada
Quero mandar a mensagem
Com humildade e coragem
Deste irmão da Caminhada.

Esta Jornada,seu moço,
Reúne vários milhões
De toda parte do mundo
Continentes,regiões
Juntando jeitos e mentes
Parecidas,diferentes
Em milhares de ações

Julho de 2013
Todo Rio de Janeiro
Está em festa animada
Com jovens do mundo inteiro
Com a visita de Francisco
Que sem temer qualquer risco
Vem com sei jeito maneiro.

Eu mesmo,como poeta
E cantor da caminhada
Visitei muitos lugares
Nos rumos desta Jornada
Com Encontros Musicais
No interior e capitais
Eita missão bem animada!

Encontrei com muita gente
Não somente a juventude
Que participou em cheio
Com brilho e magnitude
Foi grande a preparação
Pra que a nossa missão
Ganhe vigor e atitude!

Daqui do meu Ceará
Acompanho a Jornada
Vendo toda cobertura
Da Mídia e da Rede Armada
Por quem aposta na Vida
Cheia da graça querida
Por Jesus anunciada.

Que o sopro do amor divino
De ousadia e compaixão
Mova o grito e cada gesto
Em favor da multidão
Que padece a violência
E renove a consciência
Por grande transformação!

Que a humildade e a beleza
Superem todo o egoísmo
Que a gente não alimente
A pompa e o triunfalismo
Que impede que toda Igreja
Testemunhe e sempre seja
Sinal bom do Cristianismo!

Meu amigos,companheiros,
Minhas amigas também
Especialmente jovens
Que lutam com o amor que tem
Não esqueçam a Profecia
Que Dom Helder insistia
Nas horas de Deus,amém!

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Mensagem de Marcelo Barros sobre a JMJ


Recife

Estou nesse momento indo para a favela de Santa Marta, no Rio, onde a Telesur, televisão bolivariana da Venezuela que transmite para toda a América Latina de lingua espanhola, colocou o seu estudio. Minha tarefa com eles é comentar a partir da teologia da libertação e da opcao dos mais pobres a visita do papa e a Jornada da Juventude. É claro que a própria figura do papa é de Igreja Cristandade e enquanto ele não renunciar a ser chefe de estado e monarca absouto da cristandade medieval, não adianta esses gestos simpaticos (que correm o risco de ser populistas) de sair do papamóvel e andar de jipe ou querer estar mais perto do povo. Será sempre como rei. E de acordo com isso, o arcebispo do Rio e os organizadores da viagem combinaram que o papa terá muito mais contato com o governo, autoridades políticas, elite econômica etc do que com a juventude propriamente. Com a juventude será sempre atos d e massa  e tradicionais - missa e via sacra. Com os outros encontros mais livres. A não ser que com uma delegação de jovens que coordenam a jornada junto com os padres e bispos. Alguém de voces sabe me dizer para que ou por que ou que sentido tem um papa abençoar os símbolos dos jogos olímpicos ou da Copa - que são instrumentos de confraternização da humanidade e são ecumênicos por si mesmos? Querem um sinal de mais cristandade nostálgica de sua hegemonia no mundo do que isso? Até que ponto  o papa Francisco conseguirá abrir brechas nessa fortaleza medieval? Veremos. 

O importante me parece ter claro: independentemente de Marcelo Rossi ou de Fábio de Melo, toda a jornada é um ato de cristandade e tem como finalidade trazer a juventude à Igreja Católica tradicional com missa e via sacra medieval e nem mesmo com círculos bíblicos ou leitura orante da Biblia ou grupos de jovem refletindo sobre a missão do jovem na escola e na universidade ou no trabalho. Não. Nas devoções do tempo em que eu era criança, antes do Vaticano II. Não sei se não haverá uma hora santa e um terço. E é claro nada ecumênico, nenhuma referência a outras Igrejas, outras religiões ou simplesmente à juventude do mundo que não acampa em nenhuma catedral religiosa.

Vocês sabem que durante toda essa semana, ligada à Jornada, o pessoal mais ligado às pastorais sociais e CEBs, vão ter o espaço da Tenda dos Mártires ou Tenda da Caminhada (não sei bem ainda como vão chamar) e que está implantada em uma paróquia da zona norte do Rio (perto da estação do metrô Maria das Graças) e que funcionará com debates e celebrações no estilo da caminhada da Igreja dos mártires e da libertação. Consegui que a TELESUR colocasse uma jornalista e uma câmara lá para noticiar para toda a América Latina os eventos mais significativos que não serão paralelos aos oficiais da JMJ, mas vamos dizer complementares. Temos de ser ecumênicos e não ficar falando de nós para nós mesmos. Então vamos sim participar dos grandes momentos juntos com toda a juventude aqui reunida. 

Sem dúvida, eu e alguns colegas tentaremos pegar uma ou outra palavra de Francisco, aqui e ali, para dizer seu apoio aos empobrecidos e seu desejo de um mundo mais justo e igualitário. Certamente isso teremos porque a própria estrutura eclesiástica precisa desse discurso, depois do inverno ártico ou antártico dos dois últimos pontificados. O problema é o risco de que, ao fazermos isso, estaremos legitimando esse modelo monárquico de Cristandade - aparentemente mais renovada e pintada de nova - sem deixar claro que os pobres não precisam apenas da piedade simpática do papa que vai a Lampedusa orar pelos africanos mortos na travessia do Mediterrâneo e lamentar os estragos evidentes da sociedade capitalista assassina. Querem sim ser sujeitos de sua história e querem sim o apoio e a adesão do papa e de todos à sua causa, mas isso significa bolivarianismo e Teologia da Libertação. Será que Francisco chega até lá? Se sim, pensemos em como apoiá-lo na luta interna lá com os Bertoni da vida, os que estão se beneficiando com o banco do Vaticano, o IOR e as 190 embaixadas do papa espalhadas pelo mundo (imaginem o nome pomposo: Nunciaturas apostólicas! Só se for dos apóstolos da Igreja Universal do Reino de Deus e sua teologia da prosperidade), sem falar no sempre vivo e atuante Bento XVI, morando, é claro, dentro do Vaticano a alguns metros da casa em que mora o atual papa e principal redator da primeira encíclica do Francisco (Lumen Fidei) que é uma visão da fé para a cristandade do século XIII (antes do Concilio de Trento) e que sem dúvida é o máximo que esse tipo de modelo de Igreja consegue alcançar.(No último capítulo, no final da carta, o atual papa tentou dar um tom mais simples e pastoral que parece a conversa amigável do pastor do que se crê pastor universal (de novo a ideia de Cristandade) em pleno s éculo XXI, mas sem querer entrar nos assuntos polêmicos ou fortes dos desafios da fé para o mundo atual.

Vou para o meu trabalho na TELESUR e os abraço na esperança sim de um mundo novo e uma Igreja renovada absolutamente possível, mas não a partir do papa (mesmo se esse for Francisco) e sim de nossas comunidades e pastorais populares na linha da eclesiologia do Vaticano II: Igrejas locais mais autônomas, com cara própria de Igrejas e não de departamentos locais ou filiais da cúria romana. É isso. Desculpem essa conversa comprida e um pouco de desabafo. É minha confiança em vocês que me permitem isso. 

Um abração do mano Marcelo  Barros 

(acho que vocês sabem quem sou, monge beneditino e assessor de movimentos populares, como o MST e o MTC (movimento de trabalhadores cristãos - antiga ACO)

domingo, 14 de julho de 2013

Violência de gênero: qual o papel da comunidade de fé?

Por Ilcélia Alves Soares


Estamos vivendo o período do dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres e os 16 Dias de Ativismo contra a Violência de Gênero. Esses dias são lembrados em todo o mundo para mobilizar ações de prevenção e de enfrentamento desta violação dos direitos humanos.
Uma coalizão internacional de mulheres ecumênicas presentes na Comissão das Nações Unidas sobre o Status da Mulher (UNCSW) tem trabalhado com essa problemática na esperança que a comunidade internacional leve a sério o flagelo da violência contra as mulheres e meninas e se reúnam para buscar soluções que levem a sua prevenção e eliminação. Acabar com a violência contra as mulheres é uma das áreas prioritárias da UN Women (Mulheres na ONU).
A cada 15 segundos, uma mulher é espancada no Brasil. Segundo a Fundação Perseu Abramo, 70% dos casos de violência contra as mulheres acontecem dentro de casa e o autor dessa violência é uma pessoa com quem ela mantém ou manteve algum vínculo de afeto. Pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão em 2006, afirma que 51% da população brasileira conhece uma mulher que é ou foi vítima de algum tipo de violência pelo companheiro.
Diante dessa realidade, a Casa de apoio Noeli dos Santos em parceria com o Serviço Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento (SADD) e o Ministério Público de Rondônia (MPRO) promoveram, nos dias de 22 a 24 de novembro de 2012, o III Seminário de Capacitação Contra a Violência Doméstica, onde aconteceu o curso Violências contra as Mulheres: Diálogos, Direitos e Enfretamento. O objetivo era fortalecer a rede de apoio e enfrentamento às violências contra mulheres da cidade de Ariquemes-RO.
Frente à complexidade do fenômeno da violência, deparamo-nos com a relevância da rede de apoio e serviços no processo de ruptura das violências e a dimensão de sua existência. A rede deve integrar as instituições que a compõem, com a finalidade de manter o vínculo por meio de ações ou trabalhos conjuntos no enfrentamento às violencias contra as mulheres.
Nas redes estão envolvidas as Unidades de Saúde do SUS (Pronto Atendimento, Setores de Emergência e da Assistência Hospitalar; Serviços de Saúde Mental), o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), o Ministério Público, e o Conselho Municipal dos Direitos a Secretarias de Governo (Secretarias de Ação Social e da Mulher, por exemplo), Delegacia da Mulher, Casa de Apoio e Centros de Referência.
A rede de Ariquemes, contudo, existe e apresenta um perfil muito particular. Mapiar e identificar seus/suas ator@s foi um dos resultados desse trabalho: são pessoas, grupos e instituições e todos e todas participaram ativamente do curso, conforme discriminado abaixo: (conferir tabela no texto completo disponível em Violência de Gênero).
As palestrantes de diferentes profissões e regiões do país – norte, sudeste e nordeste – abordaram os temas de forma participativa, com exposições dialogadas e trabalhos em grupos.
Promotora de justiça Priscila Matzembacher – Expôs a lei Maria da Penha: o histórico, seus principais artigos e medidas protetivas que asseguram a integridade e os direitos das mulheres.
Assistente Social Ester Leite Lisboa – Fez um resgate histórico da compreensão de gênero, desde a Idade Média, e das lutas e vitórias das mulheres que marcaram e construíram a história. Apresentou questões relativas à diversidade, as relações e equidade de gênero, os papéis sociais e a heteronormatividade, permitindo uma reflexão sobre direitos humanos.
Psicóloga Ilcélia Alves Soares – Falou sobre as violências contra as Mulheres – Diálogos e Enfrentamentos – através dos conceitos e formas de violência de gênero, aspectos psicossociais e impactos das violências na vida das mulheres e de suas famílias, possibilidades de rupturas das violências. Apresentou ainda a rede de enfretamento e seus serviços e políticas de atendimento às mulheres de Ariquemes.
Esse curso é fruto de dois anos de trabalho da Reverenda Elineide Ferreira Oliveira, Reverendo Hugo Armando Sanchez, juntamente com Lúcia e Rejanne Sanchez e outras representantes da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), resultado de ações constituídas cotidianamente para estabelecer uma cultura de paz em Ariquemes.
Respeitando a laicidade do Estado, Elineide e Hugo, representando a Igreja Episcopal Anglicana local, vinculada ao Distrito Missionário Anglicano, têm dialogado com o Poder Público, a rede de atendimento às mulheres, Secretarias Municipais, instituições e sociedade civil com o desejo de pensar e realizar trabalhos pautados na justiça e equidade para todos e todas.
Casa de Apoio e Acolhimento Noeli dos Santos
A ideia da casa de apoio surgiu em uma conversa entre o reverendo Hugo Sanchez e a jornalista Cássia Bardi, na época, coordenadora do Centro de Referência de Assistência Social. Cássia recomendou um espaço de acolhimento a mulheres que viviam em situação de violência. A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil aceitou o desafio e juntamente com a Associação Anglicana Desmond Tutu criaram a Casa de Apoio e Acolhimento Noeli Dos Santos, única no estado de Rondônia.
A Casa de Apoio Noeli dos Santos acolhe as mulheres que vivem em situação de violência de gênero, viabiliza o atendimento psicológico, clínico e social dessas mulheres, realiza encaminhamentos jurídicos aos órgãos competentes, e capacita profissionalmente as mulheres para o mercado de trabalho. Promove também conscientização de seus direitos e reinserção na sociedade. A Reverenda Elineide Ferreira Oliveira coordena a casa que tem capacidade de acolher mulheres com seus filhos por um período mínimo de um dia e máximo de 90 dias. Esses prazos também são resultados da humanização do trabalho.
Por fim, pedimos licença ao poeta para reafirmar que essa caminhada também tem sua canção e que todas as Marias/Mulheres “É a dose mais forte e lenta de uma gente que rí quando deve chorar. E não vive, apenas aguenta” – hoje, não mais caladas, elas rompem o silêncio e acreditam: que “…é preciso ter manha. É preciso ter graça, É preciso ter sonho sempre, Quem traz na pele essa marca, Possui a estranha mania, De ter fé na vida.”

Encontro de Esperança e Liberdade




Infelizmente não pude ficar para participar da Celebração Eucarística de ontem. Mas saí com o espírito animado após confirmar a fé e a rebeldia peculiares desse grupo que tem no Ponto Missionário da Liberdade um espaço de comunhão. Comunhão não necessariamente da doutrina Anglicana, mas, sobretudo, das espiritualidades cristãs. Uma convergência atípica de pessoas (ex)religiosas de berços eclesiais diversos, cujos horizontes utópicos e expectativas político-sociais confundem-se, tendo como eixo - conscientemente ou não - as sugestões sincréticas e ecumênicas sintetizadas e acalentadas pela Teologia da Libertação. Como bem percebeu Dom Sebastião Armando, gradualmente vamos abandonando as identidades estáveis exigidas inclusive pelas religiões mais tradicionais, mas continuando sedentos e famintos dos "poemas" possíveis na liturgia, nas orações individuais e comunitárias, na leitura compartilhada, orante e crítica da Bíblia. Vivemos uma crise paradigmática e de identidades que precisa ser assumida (inclusive pela Igreja Anglicana) e analisada com sabedoria - com o apoio da teologia, a partir de um instrumental teórico atualizado. 

Ao longo do século XXI, possivelmente os critérios para nossa identificação (pessoal e coletiva, própria ou alheia) não mais serão os símbolos desgastados e muitas vezes estéreis reunidos e expressos pelas instituições "religião" e "igreja" - mas nosso compromisso profético com os nossos, conosco mesmos, os preferidos do ministério de Jesus (que afirmava "o vento sopra aonde quer"). Estamos aqui, por opção e com liberdade, para continuar esse ministério e atualizá-lo, ressignificando-o a partir do chão de nossas origens. É isso o que mais importa. Sou feliz por congregar com tanta gente boa, ainda mais quando o diálogo inter-religioso e até "extra-religioso" se apresenta como acréscimo ao desafio! Avante!

Brasis - Diocese Anglicana do Recife

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PONTO MISSIONÁRIO DA LIBERDADE
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