domingo, 14 de julho de 2013

Violência de gênero: qual o papel da comunidade de fé?

Por Ilcélia Alves Soares


Estamos vivendo o período do dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres e os 16 Dias de Ativismo contra a Violência de Gênero. Esses dias são lembrados em todo o mundo para mobilizar ações de prevenção e de enfrentamento desta violação dos direitos humanos.
Uma coalizão internacional de mulheres ecumênicas presentes na Comissão das Nações Unidas sobre o Status da Mulher (UNCSW) tem trabalhado com essa problemática na esperança que a comunidade internacional leve a sério o flagelo da violência contra as mulheres e meninas e se reúnam para buscar soluções que levem a sua prevenção e eliminação. Acabar com a violência contra as mulheres é uma das áreas prioritárias da UN Women (Mulheres na ONU).
A cada 15 segundos, uma mulher é espancada no Brasil. Segundo a Fundação Perseu Abramo, 70% dos casos de violência contra as mulheres acontecem dentro de casa e o autor dessa violência é uma pessoa com quem ela mantém ou manteve algum vínculo de afeto. Pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão em 2006, afirma que 51% da população brasileira conhece uma mulher que é ou foi vítima de algum tipo de violência pelo companheiro.
Diante dessa realidade, a Casa de apoio Noeli dos Santos em parceria com o Serviço Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento (SADD) e o Ministério Público de Rondônia (MPRO) promoveram, nos dias de 22 a 24 de novembro de 2012, o III Seminário de Capacitação Contra a Violência Doméstica, onde aconteceu o curso Violências contra as Mulheres: Diálogos, Direitos e Enfretamento. O objetivo era fortalecer a rede de apoio e enfrentamento às violências contra mulheres da cidade de Ariquemes-RO.
Frente à complexidade do fenômeno da violência, deparamo-nos com a relevância da rede de apoio e serviços no processo de ruptura das violências e a dimensão de sua existência. A rede deve integrar as instituições que a compõem, com a finalidade de manter o vínculo por meio de ações ou trabalhos conjuntos no enfrentamento às violencias contra as mulheres.
Nas redes estão envolvidas as Unidades de Saúde do SUS (Pronto Atendimento, Setores de Emergência e da Assistência Hospitalar; Serviços de Saúde Mental), o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), o Ministério Público, e o Conselho Municipal dos Direitos a Secretarias de Governo (Secretarias de Ação Social e da Mulher, por exemplo), Delegacia da Mulher, Casa de Apoio e Centros de Referência.
A rede de Ariquemes, contudo, existe e apresenta um perfil muito particular. Mapiar e identificar seus/suas ator@s foi um dos resultados desse trabalho: são pessoas, grupos e instituições e todos e todas participaram ativamente do curso, conforme discriminado abaixo: (conferir tabela no texto completo disponível em Violência de Gênero).
As palestrantes de diferentes profissões e regiões do país – norte, sudeste e nordeste – abordaram os temas de forma participativa, com exposições dialogadas e trabalhos em grupos.
Promotora de justiça Priscila Matzembacher – Expôs a lei Maria da Penha: o histórico, seus principais artigos e medidas protetivas que asseguram a integridade e os direitos das mulheres.
Assistente Social Ester Leite Lisboa – Fez um resgate histórico da compreensão de gênero, desde a Idade Média, e das lutas e vitórias das mulheres que marcaram e construíram a história. Apresentou questões relativas à diversidade, as relações e equidade de gênero, os papéis sociais e a heteronormatividade, permitindo uma reflexão sobre direitos humanos.
Psicóloga Ilcélia Alves Soares – Falou sobre as violências contra as Mulheres – Diálogos e Enfrentamentos – através dos conceitos e formas de violência de gênero, aspectos psicossociais e impactos das violências na vida das mulheres e de suas famílias, possibilidades de rupturas das violências. Apresentou ainda a rede de enfretamento e seus serviços e políticas de atendimento às mulheres de Ariquemes.
Esse curso é fruto de dois anos de trabalho da Reverenda Elineide Ferreira Oliveira, Reverendo Hugo Armando Sanchez, juntamente com Lúcia e Rejanne Sanchez e outras representantes da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), resultado de ações constituídas cotidianamente para estabelecer uma cultura de paz em Ariquemes.
Respeitando a laicidade do Estado, Elineide e Hugo, representando a Igreja Episcopal Anglicana local, vinculada ao Distrito Missionário Anglicano, têm dialogado com o Poder Público, a rede de atendimento às mulheres, Secretarias Municipais, instituições e sociedade civil com o desejo de pensar e realizar trabalhos pautados na justiça e equidade para todos e todas.
Casa de Apoio e Acolhimento Noeli dos Santos
A ideia da casa de apoio surgiu em uma conversa entre o reverendo Hugo Sanchez e a jornalista Cássia Bardi, na época, coordenadora do Centro de Referência de Assistência Social. Cássia recomendou um espaço de acolhimento a mulheres que viviam em situação de violência. A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil aceitou o desafio e juntamente com a Associação Anglicana Desmond Tutu criaram a Casa de Apoio e Acolhimento Noeli Dos Santos, única no estado de Rondônia.
A Casa de Apoio Noeli dos Santos acolhe as mulheres que vivem em situação de violência de gênero, viabiliza o atendimento psicológico, clínico e social dessas mulheres, realiza encaminhamentos jurídicos aos órgãos competentes, e capacita profissionalmente as mulheres para o mercado de trabalho. Promove também conscientização de seus direitos e reinserção na sociedade. A Reverenda Elineide Ferreira Oliveira coordena a casa que tem capacidade de acolher mulheres com seus filhos por um período mínimo de um dia e máximo de 90 dias. Esses prazos também são resultados da humanização do trabalho.
Por fim, pedimos licença ao poeta para reafirmar que essa caminhada também tem sua canção e que todas as Marias/Mulheres “É a dose mais forte e lenta de uma gente que rí quando deve chorar. E não vive, apenas aguenta” – hoje, não mais caladas, elas rompem o silêncio e acreditam: que “…é preciso ter manha. É preciso ter graça, É preciso ter sonho sempre, Quem traz na pele essa marca, Possui a estranha mania, De ter fé na vida.”

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