segunda-feira, 22 de julho de 2013

Mensagem de Marcelo Barros sobre a JMJ


Recife

Estou nesse momento indo para a favela de Santa Marta, no Rio, onde a Telesur, televisão bolivariana da Venezuela que transmite para toda a América Latina de lingua espanhola, colocou o seu estudio. Minha tarefa com eles é comentar a partir da teologia da libertação e da opcao dos mais pobres a visita do papa e a Jornada da Juventude. É claro que a própria figura do papa é de Igreja Cristandade e enquanto ele não renunciar a ser chefe de estado e monarca absouto da cristandade medieval, não adianta esses gestos simpaticos (que correm o risco de ser populistas) de sair do papamóvel e andar de jipe ou querer estar mais perto do povo. Será sempre como rei. E de acordo com isso, o arcebispo do Rio e os organizadores da viagem combinaram que o papa terá muito mais contato com o governo, autoridades políticas, elite econômica etc do que com a juventude propriamente. Com a juventude será sempre atos d e massa  e tradicionais - missa e via sacra. Com os outros encontros mais livres. A não ser que com uma delegação de jovens que coordenam a jornada junto com os padres e bispos. Alguém de voces sabe me dizer para que ou por que ou que sentido tem um papa abençoar os símbolos dos jogos olímpicos ou da Copa - que são instrumentos de confraternização da humanidade e são ecumênicos por si mesmos? Querem um sinal de mais cristandade nostálgica de sua hegemonia no mundo do que isso? Até que ponto  o papa Francisco conseguirá abrir brechas nessa fortaleza medieval? Veremos. 

O importante me parece ter claro: independentemente de Marcelo Rossi ou de Fábio de Melo, toda a jornada é um ato de cristandade e tem como finalidade trazer a juventude à Igreja Católica tradicional com missa e via sacra medieval e nem mesmo com círculos bíblicos ou leitura orante da Biblia ou grupos de jovem refletindo sobre a missão do jovem na escola e na universidade ou no trabalho. Não. Nas devoções do tempo em que eu era criança, antes do Vaticano II. Não sei se não haverá uma hora santa e um terço. E é claro nada ecumênico, nenhuma referência a outras Igrejas, outras religiões ou simplesmente à juventude do mundo que não acampa em nenhuma catedral religiosa.

Vocês sabem que durante toda essa semana, ligada à Jornada, o pessoal mais ligado às pastorais sociais e CEBs, vão ter o espaço da Tenda dos Mártires ou Tenda da Caminhada (não sei bem ainda como vão chamar) e que está implantada em uma paróquia da zona norte do Rio (perto da estação do metrô Maria das Graças) e que funcionará com debates e celebrações no estilo da caminhada da Igreja dos mártires e da libertação. Consegui que a TELESUR colocasse uma jornalista e uma câmara lá para noticiar para toda a América Latina os eventos mais significativos que não serão paralelos aos oficiais da JMJ, mas vamos dizer complementares. Temos de ser ecumênicos e não ficar falando de nós para nós mesmos. Então vamos sim participar dos grandes momentos juntos com toda a juventude aqui reunida. 

Sem dúvida, eu e alguns colegas tentaremos pegar uma ou outra palavra de Francisco, aqui e ali, para dizer seu apoio aos empobrecidos e seu desejo de um mundo mais justo e igualitário. Certamente isso teremos porque a própria estrutura eclesiástica precisa desse discurso, depois do inverno ártico ou antártico dos dois últimos pontificados. O problema é o risco de que, ao fazermos isso, estaremos legitimando esse modelo monárquico de Cristandade - aparentemente mais renovada e pintada de nova - sem deixar claro que os pobres não precisam apenas da piedade simpática do papa que vai a Lampedusa orar pelos africanos mortos na travessia do Mediterrâneo e lamentar os estragos evidentes da sociedade capitalista assassina. Querem sim ser sujeitos de sua história e querem sim o apoio e a adesão do papa e de todos à sua causa, mas isso significa bolivarianismo e Teologia da Libertação. Será que Francisco chega até lá? Se sim, pensemos em como apoiá-lo na luta interna lá com os Bertoni da vida, os que estão se beneficiando com o banco do Vaticano, o IOR e as 190 embaixadas do papa espalhadas pelo mundo (imaginem o nome pomposo: Nunciaturas apostólicas! Só se for dos apóstolos da Igreja Universal do Reino de Deus e sua teologia da prosperidade), sem falar no sempre vivo e atuante Bento XVI, morando, é claro, dentro do Vaticano a alguns metros da casa em que mora o atual papa e principal redator da primeira encíclica do Francisco (Lumen Fidei) que é uma visão da fé para a cristandade do século XIII (antes do Concilio de Trento) e que sem dúvida é o máximo que esse tipo de modelo de Igreja consegue alcançar.(No último capítulo, no final da carta, o atual papa tentou dar um tom mais simples e pastoral que parece a conversa amigável do pastor do que se crê pastor universal (de novo a ideia de Cristandade) em pleno s éculo XXI, mas sem querer entrar nos assuntos polêmicos ou fortes dos desafios da fé para o mundo atual.

Vou para o meu trabalho na TELESUR e os abraço na esperança sim de um mundo novo e uma Igreja renovada absolutamente possível, mas não a partir do papa (mesmo se esse for Francisco) e sim de nossas comunidades e pastorais populares na linha da eclesiologia do Vaticano II: Igrejas locais mais autônomas, com cara própria de Igrejas e não de departamentos locais ou filiais da cúria romana. É isso. Desculpem essa conversa comprida e um pouco de desabafo. É minha confiança em vocês que me permitem isso. 

Um abração do mano Marcelo  Barros 

(acho que vocês sabem quem sou, monge beneditino e assessor de movimentos populares, como o MST e o MTC (movimento de trabalhadores cristãos - antiga ACO)

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