sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Cruz, sinal de fé, recomeço e continuidade



 Por Izaias Silva*


Cruz do Ponto Missionário da Liberdade**

A gente sabe, a história nos conta a importância dos símbolos para animar a nossa fé.  Sendo assim, podemos dizer que, todas as formas que expressam o nosso cuidado e respeito à Tradição Cristã são importantes e imprescindíveis para animar a Caminhada. Velas, cores, flores, ícones e imagens, o cheiro dos incensos, os lindos cânticos, carregados de simbologia, são formas de revelar a beleza de Deus como alvo de nosso culto, de louvor e adoração.  O simbólico nos remete a toda a Caminhada do povo ao longo do tempo. Uma determinada forma de cultuar, por exemplo, pode ser preservada a partir da experiência de fé de um especifico grupo religioso a ponto de ser reconhecido só pela maneira de vivência-la em seu cotidiano.
É claro que a dimensão simbólica ultrapassa os limites do espaço religioso. A camisa do time preferido, a aliança do casal apaixonado, a bandeira do país de origem, o cheiro de um perfume que nos remete ao amor do passado, um papel com os primeiros rabiscos feitos por nossas crianças como homenagem do dias das mães ou dos pais, tudo pode ser sinal, afetivo e misterioso, com o propósito de preservar na memória da gente a importância do que se viveu.
A Cruz recolhe em si todas essas maneiras de expressão vitoriosa do amor. Também carrega o resultado de ódio e guerra pela vida afora. Sob suas formas mais variadas encontramos particularidades reservadas a cada uma delas. Cruz franciscana, Cruz beneditina, de São Damião, Cruz de El Salvador que representa a história do mártir Dom Oscar Romero, a nossa Cruz Celta. Cada qual trazendo essa mistura louca de sangue, suor, luta, derrotas e vitórias da gente que veio antes de nós fazendo o Caminho possível da fé que conhecemos hoje. Ora como gente perseguida, ora como perseguidora. Ora libertando, em outros momentos oprimindo.
Se não tivesse todo o conjunto histórico de fatos e causos, do recheio da Tradição religiosa, se não fosse impregnada de morte, ressurreição e vida, dois pedaços de madeiras sobrepostos e cruzados nenhum significado teriam. Mas a história conta, nem precisava lembrar, que tudo recomeçou com sangue sendo derramado sobre ela. Com vidas, em sua volta, que buscavam preservar, também, os símbolos da sua respectiva Tradição religiosa, nesse caso, judaica. Essa gente, a partir da memória da sua ancestralidade, da troca de receitas culinárias, da cozinha da casa, do quarto antes de dormir, da cama entre um suspiro e outro de amor, da pele dos corpos embriagados de desejo, das conversas perto dos muros das cidades, dentro e fora do templo, nas montanhas e vales, das brincadeiras de crianças, trazia o desejo de manter sua fé e prática religiosa intactas, sem rupturas nem contaminações. Sangue derramado sobre Cruzes, vidas findadas, histórias findas, mesmo antes do episódio de Jesus narrado nos Evangelhos.
Mas, particularmente, cada Cruz tem sua própria história e cada vida tem sua própria Cruz. Hoje, por desgraça, quase deixamos que, injustamente, se perca o seu terrível sentido, servindo quase sempre apenas como objeto degradado e vazio de decoração. Esquecemos as dores impregnadas em sua imagem. A de Jesus é a nossa maior referência por isso a usamos em nossos corpos, pendurada ou tatuada, em nossos altares ou em frente a nossos templos, porque na Cruz dele está a nossa própria história.  
Na atualidade, a Cruz que nossa gente leva sobre si é representada pelas marcas de seus corpos. Corpos mutilados, doentes, olhos chorosos, barrigas vazias, mãos estendidas. Nossa gente esquecida e abandonada, com suas dores e desencanto, está nas ruas, nos morros, nas favelas de nossa cidade. Gente esquecida que relembra, como sinal de fé, que é necessário e urgente continuar a Caminhada. Nessa gente, nossa gente, a Cruz é encarnada dando forma ao Jesus rejeitado. Nós, da religião, seja ela qual for, nem temos olhos para ver, ouvido para ouvir e mãos para estender porque nos encontramos em plena ocupação com as atividades e manutenção do templo.
Que sinal devemos fazer? Que sinal devemos viver? O símbolo da cruz, em gesto, cruzando o rosto em direção ao peito e aos ombros?  Ou a partilha do pão, numa Eucaristia viva, com nossa gente marginalizada?  Como dizia o poeta: “Caminhemos, talvez nos vejamos depois” isso porque a vida é cumprida e a estrada é alongada. Sendo assim,relembrando Jesus: “Apartai-vos, tive fome e não me deram de comer, sede, fui estrangeiro, estive nu, doente, fui abandonado! Apartai-vos”

Veja as fotos da colocação da Cruz de nosa Capela
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* Izaias, teólogo, anglicano, ministro pastoral auxiliar do Ponto Missionário da Liberdade
** Nossa Cruz há dois meses foi, finalmente, colocada em frente a nossa Capela por dois jovens, Alexandre Roseno e César Ramos, a eles nossa gratidão. A mesma foi um presente do Seminário Anglicano de Estudos Teológicos - SAET, no ano de 2011. Agradecemos ao Revdo João Peixoto, reitor do referido seminário pelo presente a nossa comunidade. Teve toda uma luta de envio para comunidade. A nossa Cruz é de cimento armado. Assim, agradecemos o apoio de nossa Catedral Anglicana da Santíssima Trindade, na pessoa do Revdmo. Deão, Sérgio Andrade.

Um comentário:

  1. Belo texto, Izaias. Interessante reflexão sobre a Cruz!
    Parabéns à Comunidade pela colocação da Cruz Celta, memória de nossas origens!
    Paz e Bem!

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