terça-feira, 15 de março de 2011

Quaresma: Tempo de oração e compromisso ecológico


Monge Marcelo Barros 

Camaragibe, quarta-feira de Cinzas, 2011

Este é o tempo favorável. Hoje é o dia da salvação” (2 Cor 6, 2).

Esta palavra que ressoa nas Igrejas em uma das leituras mais usadas nesta quarta-feira de cinzas pode ter para nós uma atualidade nova. Neste texto, Paulo cita o 2º Isaías que animava o povo a sair da escravidão e a voltar à terra prometida. O pano de fundo é que Deus está sempre disposto a promulgar um novo Jubileu, isto é, um tempo de perdão (cancelamento das dívidas), reconciliação e de graça ou renovação da aliança. Na carta aos coríntios, Paulo diz que este tempo novo está ao nosso alcance e pode ser agora. Não se trata, então, apenas de um tempo “litúrgico”, no qual as pessoas intensificam orações e celebrações preparando-se para a festa da Páscoa. Também não se trata de fazer penitências (jejuns e abstinências) que depois, nos outros tempos do ano, não tenham continuidade. O importante é saber que estamos em um tempo novo e, para ser realmente novo, depende de nós. Para isso, somos chamados a reavivar em nós a alegria e a graça da presença divina como fonte de renovação interior e social. Isso implica em um trabalho de reconciliação interior, em cancelar as dívidas (tanto econômicas e sociais, como as morais e psicológicas) que outros têm conosco. Tenho mais dificuldade de fazer isso quando os “endividados” não pedem e, às vezes, nem têm consciência de terem alguma dívida comigo, mas sei que devo cancelar todas as dívidas, seja como for. Esta reconciliação interior supõe profundamente uma relação de tipo nova com a natureza. Não conseguimos viver a unidade em nós, sem sermos pessoas de unidade umas com as outras e sem nos colocar como parte integrante e sensível do universo que nos rodeia, nos alimenta e nos faz viver.



Neste ano, a Campanha da Fraternidade da ICAR nos convida a prestar mais atenção a esta questão da vida no planeta e aos gemidos da criação (Rm 8). Não podemos deixar um assunto tão importante apenas nas mãos de governos e técnicos. Nos últimos anos, os povos indígenas têm nos dado um exemplo ao mobilizar-se e articular-se até internacionalmente em defesa da Mãe Terra. Sem dúvida, todas as medidas sociais, políticas e técnicas que se puderem tomar em defesa da natureza são importantes e oportunas. Mas, nenhuma delas terá efeito profundo se não tiver como raiz uma cultura de respeito e relação amorosa com todos os seres vivos, como sinais e instrumentos do Espírito, de quem o livro da Sabedoria diz: “enche todo o universo, tudo abarca em seu saber e tudo enlaça em seu amor” (Cf. Sb 1, 7).

Esta espiritualidade de amor ecológico, podemos e devemos vivê-la no cotidiano, em cada pequeno gesto e ação que fazemos, assim como na disponibilidade para nos mobilizarmos socialmente nas comissões e grupos locais em favor do ambiente.

É a graça das festas anuais da Páscoa que este ano tomará para nós este tom de aliança ecológica. Retomando minha missão de animar grupos populares e comunidades com uma espiritualidade ecumênica, me sinto cada vez melhor de saúde e disposto a viver na alegria da comunhão com vocês. Comecei esta quarta-feira de Cinzas enviando a alguns órgãos de imprensa um artigo de solidariedade ao meu mestre e amigo padre José Comblin. Na próxima semana, terei a graça de coordenar e participar de um pequeno retiro para os bispos da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. Encerrarei a Quaresma celebrando o Tríduo Pascal com um grupo de leigos italianos ligados ao antigo mosteiro de Goiás, em Quarrata, perto de Pistóia, na Toscana.


“Viver o inesperado” era o título de uma carta do irmão Roger Shutz, prior de Taizé, em 1974. Abria o que, na época, se chamava “o Concílio de Jovens”. Era um processo de diálogo e comunhão que reunia jovens no mundo inteiro para iniciar um novo estilo de vida comunitária (“foyers d’unité” – “células de unidade”). Até hoje, esta proposta mobiliza muita gente, jovens e menos jovens. A mim, me parece um estilo novo de vida consagrada no mundo e de forma laical. Muitos de vocês vivem isso. Quero apoiá-los/las nisso. A base disso é a boa nova da Páscoa. O amor divino é tão forte que vence a morte. Ele nos recorda que o sentido da nossa vida é saber que somos amados e corresponder a este amor divino amando até o ponto de nos doar, se necessário, dar a nossa própria vida.


Contem comigo neste caminho. Deus abençoe e ilumine a cada um/uma de vocês. Um abraço do irmão Marcelo
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Brasis - Diocese Anglicana do Recife

Postagens populares

PONTO MISSIONÁRIO DA LIBERDADE
4ª Travessa Santo Aleixo, 275
Santo Aleixo - Jaboatão dos Guararapes - PE
Próximo ao Mercadinho Asa Branca