Por Pedro Rodrigo da Silva*
Na quarta-feira próxima a Igreja Católica Romana irá reeditar a Campanha da Fraternidade. Inspirada na Teologia da Libertação, surgiu na década de 1960 por meio da colaboração visionária de Dom Hélder Câmara, atravessou os anos de chumbo da Ditadura Civil-Militar e os da redemocratização, perdendo fôlego em meados dos anos 1990, entre outros motivos, pela onda neoliberal que assolou a América Latina e pela perseguição da ala conservadora do alto clero à referida teologia - notadamente por determinação pessoal de João Paulo II. Poucos sabem ou admitem, mas seus temas foram fundamentais para o ordenamento jurídico que possibilitou a doutrina do Sistema de Garantia de Direitos e a redação da Constitução de 1988.

Quase trinta anos depois, há muito a fazer neste campo, sobretudo quanto à conscientização e sensibilização da população brasileira que continua refém da mídia irresponsável e de parlamentares oportunistas e sensacionalistas - preocupados com a própria reeleição e bolsos - que bradam pela redução da maioridade penal, quando deveriam se comprometer com a garantia dos direitos básicos das crianças e adolescentes, historicamente negados.
Aos que se dizem cristãos romanos, mas endossam por ignorância, revolta injustificada ou conveniência tais retrocessos, é oportuno relembrar a história recente de nosso país e o peso da Bíblia que portam - infelizmente, em tempos de Teologia da Prosperidade, talvez como amuleto, sedativo, livro de auto-ajuda ou de orientação financeira.
Os problemas sociais assumidos pela religião continuam nos interpelando, nos constrangendo, nos intimando à permanente opção preferencial pelos pobres. A radicalidade do compromisso cristão continua ecoando, apesar da surdez que grassa, nas palavras de Jesus: "o que fizeres a eles (os oprimidos), é a mim que estarás fazendo."
*Pedro é pedagogo, estudante de cinema da UFPE e participa da Comunidade Anglicana da Liberdade.
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