Por Roberta Araujo*
Registro minha surpresa, preocupação e repúdio com as propostas para a tipificação do crime de Terrorismo que estão sendo debatidas no Congresso Nacional. O intuito claro de criminalização de grupos e movimentos sociais é uma grave ameaça ao princípio democrático proposto pela Constituição de 1988. Há comportamentos isolados abusivos? Criminosos? Sim. Mas para estes, há lei penal e civil que os regula.
O que não posso aceitar acriticamente é uma proposta tal como a que consta no Projeto de Lei que em seu art. 2º define que seria considerado como Terrorismo: Provocar ou infundir terror ou pânico generalizado por motivo ideológico, religioso, político ou de preconceito racial ou étnico. Quem definiria o que seria terror e pânico? Esse tipo de abstração legal produz uma margem de liberdade e subjetivismo imensurável para quem vai apurar e julgar o crime. Pior, motivos ideológicos, religiosos, políticos? E a liberdade de expressão, de pensamento? Encarceradas em um tipo penal cujos limites são entregues a quem detém o poder de defini-la?
O grau de abstração e inconstitucionalidade dessa proposta fortalece um Estado Penal segregacionista que funciona, na prática, como mecanismo de contenção das lutas sociais democráticas . O inimigo que os setores conservadores desse país buscam combater e intimidar na verdade são os movimentos populares que reivindicam mudanças profundas na sociedade brasileira porque é óbvio que as lutas e manifestações de diversos movimentos sociais são causadas por motivos ideológicos, religiosos e políticos, o que assegurado pela nossa Constituição. Esse Projeto de Lei é para mim um equívoco político e jurídico, destituído de qualquer fundamento ou motivação de legitimidade. Essa pretendida tipificação penal de atos terroristas revela a dimensão fascista do nosso Estado e é incompatível com os anseios de uma sociedade livre, justa e solidária. Teremos uma nova versão do AI-5?
Repudio veementemente essa proposta que representa, sobretudo o claro intento de reprimir e controlar manifestações legítimas dos diversos movimentos sociais que realmente causam indignação para quem há muito sobrevive de privilégios sociais. Nesse cenário, penso comigo que foi nisso que deu deslegitimar cotidianamente a política e o poder e seus críticos estimularem a descrença nela. Sobrou pra todo mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário