Por Izaias Silva*
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Cruz do Ponto Missionário da Liberdade** |
A gente sabe, a história nos
conta a importância dos símbolos para animar a nossa fé. Sendo assim, podemos dizer que, todas as
formas que expressam o nosso cuidado e respeito à Tradição Cristã são
importantes e imprescindíveis para animar a Caminhada. Velas, cores, flores,
ícones e imagens, o cheiro dos incensos, os lindos cânticos, carregados de
simbologia, são formas de revelar a beleza de Deus como alvo de nosso culto, de
louvor e adoração. O simbólico nos remete
a toda a Caminhada do povo ao longo do tempo. Uma determinada forma de cultuar,
por exemplo, pode ser preservada a partir da experiência de fé de um especifico
grupo religioso a ponto de ser reconhecido só pela maneira de vivência-la em
seu cotidiano.
É claro que a dimensão simbólica
ultrapassa os limites do espaço religioso. A camisa do time preferido, a
aliança do casal apaixonado, a bandeira do país de origem, o cheiro de um
perfume que nos remete ao amor do passado, um papel com os primeiros rabiscos
feitos por nossas crianças como homenagem do dias das mães ou dos pais, tudo
pode ser sinal, afetivo e misterioso, com o propósito de preservar na memória
da gente a importância do que se viveu.
A Cruz recolhe em si todas essas
maneiras de expressão vitoriosa do amor. Também carrega o resultado de ódio e
guerra pela vida afora. Sob suas formas mais variadas encontramos
particularidades reservadas a cada uma delas. Cruz franciscana, Cruz beneditina,
de São Damião, Cruz de El Salvador que representa a história do mártir Dom
Oscar Romero, a nossa Cruz Celta. Cada qual trazendo essa mistura louca de
sangue, suor, luta, derrotas e vitórias da gente que veio antes de nós fazendo
o Caminho possível da fé que conhecemos hoje. Ora como gente perseguida, ora
como perseguidora. Ora libertando, em outros momentos oprimindo.
Se não tivesse todo o conjunto
histórico de fatos e causos, do recheio da Tradição religiosa, se não fosse
impregnada de morte, ressurreição e vida, dois pedaços de madeiras sobrepostos e
cruzados nenhum significado teriam. Mas a história conta, nem precisava
lembrar, que tudo recomeçou com sangue sendo derramado sobre ela. Com vidas, em
sua volta, que buscavam preservar, também, os símbolos da sua respectiva
Tradição religiosa, nesse caso, judaica. Essa gente, a partir da memória da sua
ancestralidade, da troca de receitas culinárias, da cozinha da casa, do quarto
antes de dormir, da cama entre um suspiro e outro de amor, da pele dos corpos
embriagados de desejo, das conversas perto dos muros das cidades, dentro e fora
do templo, nas montanhas e vales, das brincadeiras de crianças, trazia o desejo
de manter sua fé e prática religiosa intactas, sem rupturas nem contaminações. Sangue
derramado sobre Cruzes, vidas findadas, histórias findas, mesmo antes do
episódio de Jesus narrado nos Evangelhos.
Mas, particularmente, cada Cruz
tem sua própria história e cada vida tem sua própria Cruz. Hoje, por desgraça,
quase deixamos que, injustamente, se perca o seu terrível sentido, servindo
quase sempre apenas como objeto degradado e vazio de decoração. Esquecemos as
dores impregnadas em sua imagem. A de Jesus é a nossa maior referência por isso
a usamos em nossos corpos, pendurada ou tatuada, em nossos altares ou em frente
a nossos templos, porque na Cruz dele está a nossa própria história.
Na atualidade, a Cruz que nossa
gente leva sobre si é representada pelas marcas de seus corpos. Corpos mutilados,
doentes, olhos chorosos, barrigas vazias, mãos estendidas. Nossa gente
esquecida e abandonada, com suas dores e desencanto, está nas ruas, nos morros,
nas favelas de nossa cidade. Gente esquecida que relembra, como sinal de fé, que
é necessário e urgente continuar a Caminhada. Nessa gente, nossa gente, a Cruz é
encarnada dando forma ao Jesus rejeitado. Nós, da religião, seja ela qual for,
nem temos olhos para ver, ouvido para ouvir e mãos para estender porque nos
encontramos em plena ocupação com as atividades e manutenção do templo.
Que sinal devemos fazer? Que
sinal devemos viver? O símbolo da cruz, em gesto, cruzando o rosto em direção
ao peito e aos ombros? Ou a partilha do
pão, numa Eucaristia viva, com nossa gente marginalizada? Como dizia o poeta: “Caminhemos, talvez nos
vejamos depois” isso porque a vida é cumprida e a estrada é alongada. Sendo
assim,relembrando Jesus: “Apartai-vos, tive fome e não me deram de comer, sede,
fui estrangeiro, estive nu, doente, fui abandonado! Apartai-vos”
Veja as fotos da colocação da Cruz de nosa Capela
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* Izaias, teólogo, anglicano, ministro pastoral auxiliar do Ponto Missionário da Liberdade
** Nossa Cruz há dois meses foi, finalmente, colocada em frente a nossa Capela por dois jovens, Alexandre Roseno e César Ramos, a eles nossa gratidão. A mesma foi um presente do Seminário Anglicano de Estudos Teológicos - SAET, no ano de 2011. Agradecemos ao Revdo João Peixoto, reitor do referido seminário pelo presente a nossa comunidade. Teve toda uma luta de envio para comunidade. A nossa Cruz é de cimento armado. Assim, agradecemos o apoio de nossa Catedral Anglicana da Santíssima Trindade, na pessoa do Revdmo. Deão, Sérgio Andrade.
Belo texto, Izaias. Interessante reflexão sobre a Cruz!
ResponderExcluirParabéns à Comunidade pela colocação da Cruz Celta, memória de nossas origens!
Paz e Bem!