Ilcélia Soares e Mary Caulfield |
Ilcélia
Alves Soares
A
violência contra as mulheres e as meninas sempre esteve presente na
sociedade brasileira. Contudo a
discussão sobre a temática ganha sentido nos anos 80, com atuação
das Organizações Não Governamentais - ONGs, dos Movimentos Sociais
de direitos humanos e Feministas, que contribuíram para tirar da
invisibilidade as
mulheres e meninas que viviam em situação de violência, trazendo
para as rodas de diálogo toda forma de violência de gênero vivida
por elas: seja a violência física, psicológica, sexual, religiosa,
patrimonial, moral, econômica e/ou cultural.
No
Brasil esses movimentos foram de fundamental importância como
ferramenta de pressão, de controle social e fomento de políticas
públicas, bem como, para o resgate dos direitos e da dignidade
dessas mulheres e meninas. A prevenção, o enfrentamento e a
erradicação da violência de gênero são lutas constantes também
para as ONGs e representantes de diversos Movimentos Sociais que
estiveram presentes na quinquagésima sétima Comissão das Nações
Unidas sobre o Status da Mulher (CSW 57), realizada em Nova Iorque,
durante o período oficial de 04 a 15 de março de 2013.
A
Comissão das Nações Unidas sobre o Status da Mulher (CSW ONU)
é uma organização independente que estabelece ligação com a ONU,
em nome de ONGs, durante a preparação e operação da reunião
anual. As Organizações Não Governamentais da CSW operam
paralelamente e em parceria com o programa oficial da ONU.
A
primeira mensagem do dia foi proferida pela, na época, Diretora
Executiva da ONU Mulheres, senhora Michelle Bachelet. Em seguida
vários painéis foram apresentados por ativistas, acadêmicos,
religiosos, embaixadores e representantes não governamentais. Tod@s
expuseram seus trabalhos, questionaram e discutiram a temática,
afirmando que a responsabilidade é de todos/as, e criticaram a falta
de vontade política dos/as governantes no combate ao tráfico humano
e à violência doméstica.
O
painel sobre o papel dos homens diante das violências contra as
mulheres e meninas assinalou o quanto é imprescindível punir os
autores de violência e a necessidade de se preocupar também com
eles. Essa violência é “contra toda a sociedade [...] e atinge a
todas e todos”. E mais uma vez as vozes ecoaram afirmando que a
“violência é responsabilidade de todos”.
Diante
dessa compreensão, as Comunidades de Fé afirmaram, durante o
encontro, que não podem mais compactuar com o silêncio,
reconheceram que em todos os lugares ocorrem manifestações de
violências em suas múltiplas formas contra as mulheres e as meninas
no espaço público e no privado: nas casas, nas escolas, nas igrejas
e nas ruas, e se comprometeram com a prevenção e com o enfretamento
da violência de gênero.
Durante
a quinquagésima sétima Comissão das Nações Unidas sobre o Status
da Mulher (CSW 57), as
Comunidades de Fé, representadas por suas respectivas Organizações
Não Governamentais, apresentaram ideias, interesses e propósitos
diversos. Ressaltamos aquelas
que reconhecem o Estado Laico, são ecumênicas, inclusivas, e
respeitam as diversidades; como exemplo, destacamos a International
Anglican Women’s Network (IAWN) e a Restored – Ending Violence
Against Women.
International
Anglican
Women’s Network (IAWN)1
A
primeira a ser destacada é a Rede Internacional de Mulheres
Anglicanas – International Anglican Women’s Network (IAWN),
formada, em novembro de 1996, para garantir que as mulheres sejam
ouvidas nos conselhos da Igreja, em particular no Conselho Consultivo
Anglicano (ACC) e na Comissão Conjunta Permanente dos Primazes
(CCP).
A
IAWN tem como Missão habilitar e capacitar todas as mulheres da
Comunhão Anglicana para trabalhar cooperativamente em nível
nacional, provincial/internacional, a fim de fortalecer os
ministérios de mulheres no mundo de Deus e para garantir a equidade
de gênero: que as mulheres sejam participantes e influentes em toda
a Comunhão Anglicana.
Em
2005, foi aprovada a Resolução 13-31 do Conselho Consultivo
Anglicano (ACC), que incluiu o reconhecimento à igualdade de
representação das mulheres na tomada de decisões em todos os
níveis. A partir de então, foi reivindicado às Províncias que, em
todas as reuniões e decisões, as mulheres estivessem presentes com
voz e voto. Foi proposta, ainda, a recomendação de uma Comissão
Permanente para realizar um estudo sobre o lugar e o papel das
mulheres nas estruturas da Comunhão Anglicana.
Em
2006, a rede foi reestruturada para elevar uma voz profética em toda
a Comunhão Anglicana e por todas as comunidades em que vivemos, com
o propósito de aumentar e viabilizar a comunicação: todas as
mulheres da Comunhão Anglicana são convidadas a ter voz, expressar
e compartilhar suas preocupações e conquistas.
Em
2009, o Conselho Consultivo Anglicano (ACC) endossou os elementos da
resolução 13-31 e, também, acenou com o seu apoio para a
eliminação de todas as formas de violência contra as mulheres e
meninas, a promoção dos direitos e do bem-estar das mulheres, e
recomendou a implementação dos princípios sobre orientação de
gênero (Resolução 14-33).
A
Rede Internacional de Mulheres Anglicanas (IAWN) continua a trabalhar
para a participação plena e igualitária das mulheres em todas as
comunidades da Comunhão Anglicana e, também, para apoiar a
Plataforma de Ação das Nações Unidas, os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio – Metas do Milênio, e outras
iniciativas das Nações Unidas e suas agências especializadas para
a equidade de gênero.
Restored
– Ending Violence Against Women.2
É
uma aliança internacional cristã que trabalha com a temática da
violência contra as mulheres e do HIV/AIDS. O foco específico da
Our
specific focus is on the prevention of domestic violence and sexual
violence against women and girls.Restored,
enquanto Organização Não Governamental – ONG, é a prevenção
da violência doméstica e da violência sexual contra as mulheres e
as meninas. Ela tem desenvolvido trabalhos na África, incluindo a
Libéria, República Democrática do Congo e Etiópia, assim como na
Ásia Central, Rússia e Reino Unido. A Restored acredita que We
believe that Christian churches have huge potential to help prevent
violence, but also need to change their own attitudes and practice.as
igrejas cristãs têm potencial para prevenir e combater a violência
de gênero, mas também, elas precisam mudar suas atitudes e
práticas.
A
Restored – Ending Violence Against Women acredita e anuncia que:
- In 2011 Mandy won the Deloitte 'Women Who Rock' award for her work on gender equality and ending gender based violence.Mandy is passionate about seeing the church rise up to take action on ending violence against women and being a positive example to the world on healthy relationships.We believe that men and women are equal in the sight of God. Homens e Mulheres são iguais aos olhos de Deus. We believe that Violence Against Women (VAW) in all its forms is unacceptable, inexcusable and intolerable.
- A Violência Contra a Mulher (VCM), em todas as suas formas, é inaceitável, indesculpável e intolerável. We believe that the safety of women and children is paramount and that any interventions to address VAW must reflect this.
- We believe that relationships can be restored and that people can be transformed through the powe We believe that men and women should work together to transform relationships and end VAW. Homens e mulheres devem trabalhar juntos para transformar as relações e romper com as violências contra as mulheres e as meninas. We believe that the church has a vital role in transforming relationships and ending VAW both amongst Christians and in the community.
- As relações podem ser restauradas; a verdadeira transformação das pessoas deve preceder a possível restauração das relações.
- A igreja tem um papel vital na transformação das relações e na erradicação das violências contra as mulheres e meninas, tanto entre cristãos quanto na sociedade. As members of Restored, we commit ourselves to prayer and action to transform relationships and to prevent and end VAW.
Ao
término da quinquagésima sétima Comissão das Nações Unidas
sobre o Status da Mulher (CSW 57), as ONGs e Comunidades de Fé
retornaram aos seus respectivos países, assumindo o compromisso de
dar continuidade ao diálogo, compartilhar o que foi discutido nas
Nações Unidas, e construir ações de prevenção e enfrentamento
da violência contra as mulheres e as meninas.
Nosso
compromisso, enquanto brasileiras e representantes anglicanas,
pretende estar em consonância com o pensamento de Paulo Freire,
quando afirma: "Não é no silêncio que os homens se fazem, mas
na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. Percebo, assim, que
o Serviço Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento – SADD, através
das suas ações, projetos, investimento nos Contatos Diocesanos,
diálogos com temas como HIV/AIDS, Violência Doméstica e Direitos
Humanos, tem convidado todas as pessoas da IEAB a romper com o
silêncio e se engajar ao serviço de diaconia social e política nas
comunidades de fé.
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