Em Brasília, o SADD (Serviço Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento), coordenado pela psicóloca Sandra Andrade, realizou um seminário de Direitos Humanos e Saúde para a Área III de nossa Província. Esse encontro é resultado de um projeto feito pelos contatos diocesanos das Dioceses Anglicanas do Recife, a psicóloga Ilcélia Alves Soares, de Brasilia, Aroldo Carlos, de Belém e do Distrito Missionário Anglicano, Robinson Luz.

Claro que não buscarei uma
definição teórica com um texto complexo ou denso, quase tenso, para dizer um pouco
sobre Direitos Humanos. E sobre o que estamos vivendo neste encontro da Área Provincial III (Dioceses de Brasilia, de Recife, da Amazônia e o Distrito Missionário Anglicano). Até porque o título já
diz da linguagem que é quase de um batepapo de facebook ou MSN, “papo de jovem” (parafraseando o
mestre Chico Anyzio). Mas, buscarei pensar, ou ajudar a gente a pensar um
pouco, sobre como vivemos as urgências das garantias de Direitos Humanos em nosso
cotidiano, na vida que levamos por aí por onde vamos: nas ruas, nas praças,
nos becos, na barraca da rua, na padaria, nas escolas, nos morros, nos espaços
de vivência e convivência religiosa, nas vidas. E, claro, conversa para toda
gente refletir, mas com linguagem de juventudes. Juventudes no plural mesmo, tantas gentes somos que de várias juventudes nos formamos.
Quem vive nas periferias das
grandes cidades poderá lembrar de, pelo menos, um fato grave, uma história trágica,
real, onde os Direitos Humanos das pessoas não foram respeitados nem mesmo
garantidos. Histórias de famílias que foram invadidas, violadas, agredidas por
instituições, de poder e repressão, estabelecidas pelo Estado. Ou pela ausência
de garantias básicas de segurança e garantia das vidas dessas pessoas pobres com acesso à saúde, educação, cultura e arte, segurança.
Ou ainda por outras pessoas que se acham na condição de poder para subjugar as outras ao seu
domínio. Crianças que são desrespeitadas quando mães e pais são mortos, em
sua presença, por grupos de extermínios;; mães e pais que desrespeitam suas
crias, filhas e filhos, dentro da própria casa quando violam os direitos
declarados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente por desconhecerem o mesmo
ou nem ligarem pra isso; adolescentes, meninas e meninos, vitimadas que perdem a vida
violentamente onde o laudo médico, a justificativa da morte é “envolvimento com
tráfico”. E isso encerra as investigações para se chegar ao autor, ou autores,
do crime; mulheres agredidas em suas casas, psicológica, moral, simbólica e
fisicamente, por parceiros, ex-maridos, namorados. E claro, grupos religiosos e Igrejas como espaço
de desrespeitos dos Direitos Humanos e fortalecimento de comportamentos que
violam direitos como: direito de liberdade de expressão, autonomia e direito a opinião de pessoas
do grupo religioso. E essa mesma religião, de tradição judaico-cristã, quando
leituras equivocadas e literais da Bíblia buscam fortalecer a submissão
feminina ao homem "imagem e semelhança de Deus". E ainda líderes religiosos que usam o
púlpito para subjugar membros da comunidade a si. Ou, até mesmo, não perceber
comportamentos, atitudes sutis com o mesmo sentimento ou finalidade de
sub-julgar, tais como: silêncio, inversão de valores, palavras trocadas,
invertidas para poder “convencer” ou subter pessoas a dominação.
Mas, lembrar dessas histórias é
fácil. Difícil é reconhecer que eu – pessoa – preciso contribuir para mudar o
jeito do mundo de viver tudo isso como se fosse “normal”, absolutamente humano,
“vontade de Deus”, “provação”, expectativa de libertação espiritual, “luta
espiritual”, “tentação do inimigo” ou investida do coitado do Diabo nessa esquizofrenia dicotômica que hora é Deus que prova quem é crente,
hora é o “Bicho Feio”. (E olha que eu me propus a falar fácil. Até porque não
sei falar difícil. Mas, é que o texto se faz por si, tem vida própria). E sendo
assim, é claro que a palavra “mundo” aqui não se refere ao que é externo a nós, mas
aquele dentro de cada qual e no qual temos envolvimento e nos movemos.
Mas, o que podemos ou devemos
fazer para que a vivência dos Direitos Humanos seja estabelecida em nossas vidas?
Sim, porque é uma temática para a vida e urgente para a preservação da
existência humana. Porque a Declaração de Direitos Humanos entre suas palavras,
e por trás delas, luta para preservar com dignidade a existência de todas as
pessoas no planeta Terra. E do próprio Planeta como casa comum à Criação.
É sentindo essa urgência que a
Area III de nossa Província (que é composta pela
Dioceses de Brasilia, Diocese do Recife, Diocese da Amazônia e o Distrito Missionário Anglicano), está reunida em Brasilia, para ver os
caminhos possíveis para efetivação de Direitos às pessoas, para pensar a
acessibilidade das gentes marginalizadas ao direito de ter Direitos Humanos
garantidos. Em novembro de 2011 estivemos em reunião em São Paulo e este
encontro é o desenrolar do que foi decidido e vivido na Consulta Nacional sobre
Saúde e Direitos Humanos. E a partir daqui, do que estamos vivendo nestes dias,
iremos provocar nossas comunidades, Pontos Missionários, Missões, Paróquias, Catedrais, Dioceses para enxergar os desafios e urgências que
vivemos em nossa Missão diária.
Estamos nesse Caminho, que
não deixa de ser Caminho de Jesus. Porque Dele vem o exemplo de como tratou e conviveu com as
crianças, as mulheres, quem vivia à margem da sociedade. É Nele que devemos
nos inspirar para viver uma nova cosciência possível para nossos dias, fazendo com que as pessoas possam, não somente saber do que se trata, que bicho danado é esse: Direitos Humanos. Mas, saber o que significa preservar e promover a consciência de Direitos Universais, e exigir a aplicação dos mesmos em nossas vidas e nas vidas de nossas gentes.