segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

VAMOS FESTEJAR? QUE HAJA DISPOSIÇÃO PARA A FESTA, É CARNAVAL!

Izaias Torquato
teólogo e ministro pastoral da Liberdade
(Salmo 96; I Coríntios 12: 1- 11; João 2: 1-11)

Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.” (2 Coríntios 3.17)

Gente querida da Liberdade,

Estamos vivendo um momento muito especial em nossa comunidade. Um momento importante para nossa Caminhada e para a realização de sonhos em busca de alcançar nossos ideais. Mas, ao mesmo tempo, um momento delicado e desafiador. Temos que lidar, diariamente, com nossas limitações financeiras e de relacionamento pessoal. Há o desafio de fazer valer nosso esforço de implantar uma comunidade de fé, genuinamente anglicana, consciente do que quer e do que busca alcançar.
Sabemos que somos poucas pessoas. Das ligadas a nós, são umas vinte e cinco. De quem frequenta, podemos contar com, no máximo, dez. E olhe lá. De quem participa, diretamente, de avaliações, planejamentos e, o mais importante, da execução das nossas ações, podemos contar com a metade de nosso povo. Em nossas reuniões de oração, e isso faz tempo, posso dizer até que desde que cheguei por aqui, muitas vezes contamos com o número expressivo de três pessoas. É quase uma equação matemática. O que alegra e anima é que as nossas ações podem alcançar algumas centenas de pessoas no bairro. E muita gente fora daqui, da cidade, do mundo, pelo fenômeno da internet, febre do momento.
Confesso que tenho parado para silenciar, orar e refletir nas iniciativas enquanto ministro pastoral local, sendo alguém que facilita a nossa relação e que busca orientar nossa gente, localmente, a se aproximar de Deus pelo zelo na Liturgia – Serviço -, pela reflexão necessária e urgente sobre a relação com as instâncias públicas do bairro, movimentos e organizações sociais e com as instâncias do governo municipal: legislativo e executivo. Se não temos acesso diretamente a essas instâncias, pelo menos nos animamos a reivindicar esses espaços e animar pessoas a refletir nossas realidades enquanto sociedade civil. Particularmente, tenho cometido erros, não sei se poucos ou muitos, mas sei que significativos. Ao mesmo tempo identifico dificuldade na compreensão daquilo que proponho para nossa Caminhada de fé. Tento ser fiel às origens, à história de jovens que assim como nós, sonharam ser pessoas livres a partir da prática da fé comum em torno de uma Missão libertadora. Aquele grupo do início sonhou com pessoas que estivessem dispostas a uma vivência religiosa inclusiva, ecumênica, plural, acolhedora e diversa, nas suas muitas formas de pensar e agir. Tenho como base o colorido de quem sonhou no início com o que vivemos hoje e lutamos para realizar em nosso tempo.  Aquela gente permaneceu ao longo do tempo e continua conosco fazendo parte de nossa memória. E, claro, nos animando na Caminhada. E é uma questão ética manter essa memória viva e ativa entre nós: alguém veio antes de nós e plantou a semente em tempos passados. Só pra gente ter uma ideia, agora em janeiro fizemos 18 anos de existência. Quantas pessoas passaram por nós e cuidaram, com o mesmo amor e carinho, da LIBERDADE!  
Quem conosco caminha sabe que queremos criar um grupo de pessoas que participem, opinem, critiquem, divirjam, mas que antes de tudo se disponham a amar, respeitar e que se queiram bem. Por isso, buscamos viver uma liderança, ou um jeito de liderar, horizontal, circular e partilhada. Dom Sebastião, nosso bispo e pároco, escreve a respeito numa de suas Cartas Pastorais sobre “Autoridade Partilhada”. Sempre lembro desse texto quando penso nesses assuntos.
Buscamos construir coletivamente – coletivo – a nossa Caminhada local baseados nos “princípios” de uma pastoral comunitária e popular, na perspectiva de uma teologia libertadora, na prática pastoral comunitária que Caminha, que busca ser Caminhante, que busca agir concretamente na vida que pulsa pelas ruas do bairro de Santo Aleixo. Sendo assim, acredito que devemos nos emocionar mais com as pessoas que morrem vítimas do alcoolismo e das drogas, que morrem vítimas da violência urbana, das pessoas que morrem por suicídio em nosso bairro, do que com cultos de “louvor” a Deus, cheio de cânticos emocionantes cantados por pessoas emocionadas, como vendo frequentemente por aí afora. Sabemos que isso é importante, mas não é tudo nem tudo resolve em nosso caso. Também não podemos ir para o outro extremo de um culto “frio” e insensível às emoções. Ou, viver no ativismo “socialesco” de uma prática rasteira, imediatista e superficial, numa perspectiva política fragilizada que não seja capaz de vencer o tempo e sobreviver a ele. Corremos o risco de um dia ser lembrança de um tempo bom que passou e não volta mais. Até porque isso também se confunde com ativismo religioso que ajuda até a pensar que estamos fazendo algo melhor que as outras Igrejas só pelo fato de sermos mais antenados com as coisas deste mundo e do nosso tempo. Mas que, no fundo, não passa de um movimento que morrerá por si mesmo.
Como serviço cristão, prática diaconal, optamos por alcançar as famílias pelo contato direto com as juventudes do bairro. Isso requer muita paciência e confiança. Relação criada no Caminho. Quantas vezes nos sentamos à beira da estrada para conversar com o povo no meio da rua? Ou fomos às casas partilhar o velho e bom cuscuz com ovo com um cafezinho passado na hora? Isso deve voltar a acontecer com mais frequência. Nossas relações comunitárias e públicas devem voltar a fazer parte de nossa Caminhada de fé e partilhar nossa fé em Jesus. 
O nosso nome nos inspira e desafia: LIBERDADE. Liberdade de consciência, de expressão, liberdade que respeita a condição real das pessoas, inclusive sua orientação religiosa e sexual. Jesus aparece nos Evangelhos acolhendo todas as pessoas sem preconceitos ou exclusões. Mas trabalhar com o conceito tão subjetivo do que seja LIBERDADE não é fácil. Para LIBERDADE Jesus nos convida: “vocês são livres, eu liberto vocês!”. Quando Ele perdoava pecados é como se dissesse: “Vá viver sua vida de maneira livre, não se submeta a esse jugo. Isso cansa. Vá simbora viver!” No entanto, como não sabemos lidar com a LIBERDADE, nem nos garantimos o direito de ser livres, muitas vezes a gente se atropela e atropela quem passa pela frente. Não tivemos educação para vivenciar, plenamente, a LIBERDADE. Tanto que muitos de nós vive numa prisão existencial de medo, angústia, ansiedade e desconfiança. Assim, precisamos afirmar, e viver reafirmando, nossa busca por ser livres. É uma luta diária contra a opressão. A pastoral que fazemos, o Ponto Missionário da LIBERDADE, busca vivenciar uma pastoral contra o PRECONCEITO. Entendendo, ou buscando entender que tudo é uma questão de respeitar o tempo e exercitar a paciência. E de LIBERDADE, sobretudo, porque é o que nos move, ou tem movido a humanidade “desde os primórdios até hoje em dia”. Tanto por parte de quem oprime, e que por isso busca manter a opressão. Quanto de quem busca vivenciar uma sociedade livre das amarras convencionais. (Permitam-me: Que saudade de ouvir e dançar ao som de Raul Seixas: Viva a sociedade alternativa! Raul que foi um profeta pouco compreendido). Então, qual a melhor forma de conquistar e garantir o direito à LIBERDADE? Temos que descobrir caminhando. Até porque, mesmo com toda essa reflexão, podemos estar em nossos espaços de atuação, fortalecendo atitudes opressoras. Dessa forma, penso que o melhor é se auto-avaliar. Humildemente, sentar e refletir: como estou andando e vivendo? Qual é a prioridade de fato? O que, de fato, tenho proposto para o grupo? Qual é mesmo a minha prioridade: um projeto pessoal beirando o egoísmo “teológico-lóide”? Ou um projeto coletivo que requer Caminho e Caminhada, tempo e espera caminhante? Claro que a essa altura devemos refletir sobre HUMILDADE. E me vejo a vontade para ler um teólogo chamado Schettini que disse: “Quem somos nós para saber o que é melhor para todos quando, quase sempre, nem sequer sabemos o que é melhor para nós mesmos? Às vezes é preciso chegar ao último momento da vida para perceber os desCAMINHOS por onde andamos boa parte da existência. Provavelmente nos tenha faltado sensibilidade e, sobretudo, HUMILDADE. Não é sem propósito que a palavra HUMILDADE tem a sua raiz etimológica na palavra latina “humus”, que significa Terra. AO INVÉS DE NOS ELEVARMOS ÀS ALTURAS, DEVERÍAMOS NOS BAIXAR À SIMPLICIDADE DA TERRA.” (Schettini, 2002: 63).
Recebemos o convite para a festa. O salmo convida a celebrar, a cantar. A diversidade dos dons garante um colorido melhor à reunião de quem crê e se junta para celebrar a fé em Deus, no mundo e nas pessoas. Isso é festa, é alegria! O Evangelho confirma que Jesus é festivo. Se fosse um ser que não gostasse de festa não participaria e distribuiria vinho de qualidade no final para que tudo recomeçasse e a festa continuasse. Mas devemos lembrar quem Celebrar também nos leva a chorar em comunhão e união. Temos que partilhar cálices, o da alegria do encontro, da festa, da união. Mas também o cálice do desafio da convivência e das diferenças respeitadas, das dores do choque de culturas pessoais, e, ao mesmo tempo, o cálice da lembrança do sofrimento da escravidão que nossa gente vive diariamente ao longo dos anos.
Por isso, finalmente, eu convoco a nós mesmos, a mim particularmente, a manter a atenção no que é urgente. A viver com atenção redobrada a nossa gente mártir e sofredora espalhada por todos os cantos de Santo Aleixo e de Jaboatão dos Guararapes. Viver a LIBERDADE é um desafio que nos é possível alcançar. Por isso nós dançamos cantando: “Irá chegar um novo dia, um novo céu, uma nova Terra, um novo mar. E nesse dia os oprimidos numa só voz a LIBERDADE irão cantar”. (Zé Vicente)
Amém e que Deus continue a nos ajudar.

SCHETTINNI F. Luiz. A coragem de conviver: uma forma de organizar as relações interpessoais. Petrópolis. Editora Vozes 2002

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Tempo de avaliar e planejar


Reunião de Avaliação do ano de 2012 e Planejamento de  2013.1

No sábado, 5 de janeiro, véspera da Epifania de nosso Senhor, a liderança de nossa comunidade se reuniu para avaliar a nossa Caminhada. 

Começamos o dia com a feitura de nosso almoço. Da cozinha, ao redor da mesa, catando feijão, cortando as verduras e legumes a conversa fluía, a partilha acontecia e sonhos eram vislumbrados. Tomamos vinho, trocamos ideias, discutimos as relações, lemos, oramos e planejamos. 


Nossa comunidade está no início de sua Caminhada. Este ano de 2013 é o ano de continuar conquistando. Começaremos neste mês a nossa Pastoral Infantil apoiada pela UMEAB. Com o apoio da Visão Mundial daremos mais atenção à formação de nossa juventude local com seminários, encontros formativos, partilha e oração. 

Voltaremos às ruas, em reuniões públicas com a comunidade. Faremos evangelização corpo-a-corpo, olhando nos olhos das pessoas, sentindo o cheiro do povo e ouvido as suas dores. E, claro, colhendo cada fruto resultado de nosso trabalho coletivo. 

Reafirmamos nosso compromisso de ser uma Comunidade de Fé plural, em busca do jeito de ser anglicano; ecumênica e inclusiva pautada pelo serviço diaconal de apoio as pessoas mais carentes de nosso bairro. 


Brasis - Diocese Anglicana do Recife

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PONTO MISSIONÁRIO DA LIBERDADE
4ª Travessa Santo Aleixo, 275
Santo Aleixo - Jaboatão dos Guararapes - PE
Próximo ao Mercadinho Asa Branca